Ordm; LIVRO - ENTRE A TERRA E O CÉU 6 страница

13. Perispírito do selvagem - Clarêncio asseverou que, para que tivés­semos na Crosta um vaso tão aprimorado e tão belo, quanto o corpo hu­mano, "a Sabedoria Divina despendeu milênios de séculos, usando os multiformes recursos da Natureza, no campo imensurável das formas..." Assim, para que venhamos a possuir o sublime instrumento da mente em planos mais elevados, não podemos esquecer que Deus se vale do tempo infinito para aperfeiçoar e sublimar a beleza e a precisão do corpo espiritual "que nos conferirá os valores imprescindíveis à nossa adap­tação à Vida Superior", aditou o Ministro. Hilário aludiu ao impor­tante papel das enfermidades na regeneração das almas e André ponderou que cada "centro de força" exigirá absoluta harmonia, perante as Leis Divinas que nos regem, para que possamos ascender no rumo do Perfeito Equilíbrio, observações que Clarêncio apoiou, ajuntando: "Sim, nossos deslizes de ordem moral estabelecem a condensação de fluidos inferio­res de natureza gravitante, no campo eletromagnético de nossa organi­zação, compelindo-nos a natural cativeiro em derredor das vidas come­çantes às quais nos imantamos". Nesse ponto, Hilário formulou uma per­gunta interessante: Um homem puramente selvagem que pratica de­litos indiscriminados, terá nos tecidos sutis da alma as lesões que um euro­peu supercivilizado apresentaria? O Ministro sorriu e esclareceu: "Assim como o aperfeiçoado veículo do homem nasceu das formas primá­rias da Natureza, o corpo espiritual foi iniciado também nos princí­pios rudimentares da inteligência. E' necessário não confundir a se­mente com a árvore ou a criança com o adulto, embora surjam na mesma paisagem de vida". E acrescentou: "O instrumento perispirítico do sel­vagem deve ser classificado como protoforma humana, extremamente con­densado pela sua integração com a matéria mais densa. Está para o or­ganismo aprimorado dos Espíritos algo enobrecidos, como um macaco an­tropomorfo está para o homem bem-posto das cidades modernas. Em cria­turas dessa espécie, a vida moral está começando a aparecer e o peris­pírito nelas ainda se encontra enormemente pastoso". "Despenderão sé­culos e séculos para se rarefazerem, usando múltiplas formas, de modo a conquistarem as qualidades superiores que, em lhes sutilizando a or­ganização, lhes conferirão novas possibilidades de crescimento cons­ciencial." (Cap. XXI, págs. 131 e 132)

14.Causas e função das doenças - Clarêncio acentuou que o corpo do homem na Crosta foi erigido pacientemente, no curso dos sécu­los, e o delicado veículo do Espírito, nos planos mais elevados, vem sendo construído, célula a célula, na esteira dos milênios incessan­tes, "até que nos transfiramos de residência, aptos a deixar, em defi­nitivo, o caminho das formas, colocando-nos na direção das esferas do Espírito Puro, onde nos aguardam os inconcebíveis, os inimagináveis recursos da suprema sublimação". A conversação derivou então para as enfermidades e suas causas: "Um dia, o ho­mem ensinará ao homem, consoante as ins­truções do Divino Médico, que a cura de todos os males reside nele próprio. A percentagem quase total das enfermidades humanas -- asseve­rou Clarêncio -- guarda origem no psiquismo. Orgulho, vaidade, tira­nia, egoísmo, preguiça e crueldade são vícios da mente, gerando per­turbações e doenças em seus instrumentos de expressão". O Benfeitor lembrou, em seguida, que a morte não é redenção, e nunca foi: "O pás­saro doente não se retira da condição de enfermo, tão só porque se lhe arrebente a gaiola. O inferno é uma criação de almas desequilibradas que se ajuntam, assim como o charco é uma coleção de núcleos lodacen­tos, que se congregam uns aos outros. Quando de consciência inclinada para o bem ou para o mal perpetramos esse ou aquele delito no mundo, realmente podemos ferir ou prejudicar a alguém, mas, antes de tudo, ferimos e prejudicamos a nós mesmos. Se eliminamos a existência do próximo, nossa vítima receberá dos outros tanta simpatia que, em breve, se restabelecerá, nas leis de equilíbrio que nos governam, vindo, muita vez, em nosso auxílio, muito antes que possamos recompor os fios dilacerados de nossa consciência". "Quando ofendemos a essa ou àquela criatura, lesamos primeiramente a nossa própria alma, de vez que rebaixamos a nossa dignidade de espíritos eternos, retardando em nós sagradas oportunidades de crescimento." Ele informou, por fim, que a enfermidade, como desarmonia espiritual, sobrevive no pe­rispírito e que as doenças conhecidas e desconhecidas do mundo por muito tempo persistirão nas esferas torturadas da alma, conduzindo-nos ao rea­juste. "A dor é o grande e abençoado remédio", acentuou, porque nos reeduca a atividade mental, reestruturando as peças de nossa instru­mentação e polindo os fulcros anímicos de que a inteligên­cia se vale para desenvolver-se. E' ela, depois de Deus, a única força capaz de alterar o rumo de nossos pensamentos, compelindo-nos a indis­pensáveis modificações, com vistas ao Plano Divino, de que não podemos fugir sem graves prejuízos para nós mesmos. (Cap. XXI, págs. 132 a 134)

15.Irmã Clara - A caminho da residência de Irmã Clara, a quem Clarên­cio pediria ajuda no esclarecimento de Odila, André tinha a mente a fervilhar de indagações. Por que o Ministro rogaria a ela ajuda, quando se dirigira com tanto êxito à mente de Armando e Esteves? por que não conseguiria doutrinar também a desditosa irmã enferma? Clarên­cio ouviu-o, tolerante, e respondeu: "Iludes-te. Nem sempre doutrinar será transformar. Efetivamente, guardo alguma força magnética sufi­cientemente desenvolvida, capaz de operar sobre a mente de nossos com­panheiros em recuperação; no entanto, ainda não disponho de sentimento sublimado, suscetível de garantir a renovação da alma". E, humilde­mente, aditou: "Sem dúvida, dentro de minhas limitações, estou habili­tado a falar à inteligência, mas não me sinto à altura de redimir co­rações. Para esse fim, para decifrar os complicados labirintos do so­frimento moral, é imprescindível haver atingido mais elevados degraus na humana compreensão". Cercada de arvoredo e possuindo espaçosos can­teiros de flores, a residência de Clara parecia pequeno colégio ou gracioso internato para moças. De fato, Clara não morava numa escola, mas mantinha em casa um verdadeiro educandário, tão grandes e luzidas eram as assembléias instrutivas que sabia organizar. A benfeitora os recebeu em extenso salão, onde era atenciosamente ouvida por quatro dezenas de alunos de variadas condições, que se instalavam à vontade, em grupos diversos, sem qualquer idéia de escola assinalando o am­biente em sua feição exterior. De olhos rasgados e lúcidos a lhe mar­carem magnificamente o semblante, e dotada de basta cabeleira, Clara parecia uma jovem Madona, detida entre os melhores dons da mocidade e da madureza, e foi com alegria sincera que, interrompendo a aula, atendeu o Ministro e seus pupilos. (Cap. XXII, págs. 135 e 136)

16.A importância da voz - Clara, que ministrava um curso rápido sobre a importância da voz a serviço da palavra, retomou sua expla­nação: "Conforme estudamos na noite de hoje, a palavra, qualquer que ela seja, surge invariavelmente dotada de energias elétricas específi­cas, libertando raios de natureza dinâmica. A mente, como não ignora­mos, é o incessante gerador de força, através dos fios positivos e ne­gativos do sentimento e do pensamento, produzindo o verbo que é sempre uma descarga eletromagnética, regulada pela voz. Por isso mesmo, em todos os nossos campos de atividade, a voz nos tonaliza a exterioriza­ção, reclamando apuro de vida interior, de vez que a palavra, depois do im­pulso mental, vive na base da criação; é por ela que os homens se aproximam e se ajustam para o serviço que lhes compete e, pela voz, o trabalho pode ser favorecido ou retardado, no espaço e no tempo". Uma das aprendizes aludiu à necessidade de jamais nos encolerizarmos, e Clara assentiu, dizendo: "Sim, indiscutivelmente, a cólera não apro­veita a ninguém, não passa de perigoso curto-circuito de nossas forças mentais, por defeito na instalação de nosso mundo emotivo, arremes­sando raios destruidores, ao redor de nossos passos... Em tais oca­siões, se não encontramos, junto de nós, alguém com o material iso­lante da oração ou da paciência, o súbito desequilíbrio de nossas energias estabelece os mais altos prejuízos à nossa vida, porque os pensamentos desvairados, em se interiorizando, provocam a temporária cegueira de nossa mente, arrojando-a em sensações de remoto pretérito, nas quais como que descemos quase sem perceber a infelizes experiên­cias da animalidade inferior". E Clara aduziu, de forma peremptória: "A cólera, segundo reconhecemos, não pode e nem deve comparecer em nossas observações, relativas à voz. A criatura enfurecida é um dínamo em descontrole, cujo contacto pode gerar as mais estranhas pertur­bações". (Cap. XXII, págs. 137 e 138)

5a R E U N I Ã O

(Fonte: Capítulos XXII a XXVII.)

1. A questão da indignação - Após dizer que a cólera, pelas pertur­bações que gera, nem deve ser cogitada por aquele que fala às pessoas, Clara foi interpelada por um de seus alunos: "E se substituíssemos o termo cólera pelo termo indignação?" A instrutora pensou alguns ins­tantes e respondeu: "Efetivamente, não poderíamos completar os nossos apontamentos, sem analisar a indignação como estado dalma, por vezes necessário. Naturalmente é imprescindível fugir aos excessos. Contra­riar-se alguém a propósito de bagatelas e a todos os instantes do dia será baratear os dons da vida, desperdiçando-os, de modo inconse­qüente, sem o mínimo proveito para si mesmo ou para os outros. Imagi­nemos a indignação por subida de tensão na usina de nossos recursos orgânicos, criando efeitos especiais à eficiência de nossas tarefas. Nos casos de exceção, em que semelhante diferença de potencial ocorre em nossa vida íntima, não podemos esquecer o controle da inflexão vo­cal. Assim como a administração da energia elétrica reclama atenção para a voltagem, precisamos vigiar a nossa indignação principalmente quando seja imperioso vertê-la através da palavra, carregando a nossa voz tão somente com a força suscetível de ser aproveitada por aqueles a quem endereçamos a carga de nossos sentimentos. E' indispensável mo­dular a expressão da frase, como se gradua a emissão elétrica..." Irmã Clara prosseguiu dizendo que nossa vida pode ser comparada a grande curso educativo, em que damos e recebemos, ajudamos e somos ajudados. A serenidade, em qualquer situação, será sempre a melhor conselheira, mas, às vezes, a indignação é necessária para marcar a nossa repulsa contra os atos deliberados de rebelião ante as Leis do Senhor, sem que essa elevada tensão de espírito se arroje à violência ou perca a dig­nidade de que fomos investidos. Basta, dentro dela, nossa abs­tenção de atos que intimamente reprovamos, porque nossa atitude é uma corrente de indução magnética. Em torno de nós, quem simpatiza conosco faz ge­ralmente aquilo que nos vê fazer. Nosso exemplo é um fulcro de atra­ção, motivo por que precisamos muita cautela com a palavra, nos momen­tos de tensão alta de nosso mundo emotivo, para que nossa voz não se desmande em gritos selvagens ou em considerações cruéis que não passam de choques mortíferos que infligimos aos outros. Ato contínuo, Clara respondeu a uma pergunta sobre a gaguez e a diplofonia, esclare­cendo que, sem dúvida, os órgãos vocais experimentam também lutas e pro­vações quando reclamam reajuste. (N.R.: Diplofonia é uma patologia ca­racterizada pela formação simultânea de dois sons na laringe.) Consi­derando que, por intermédio da voz, praticamos vários delitos de tira­nia men­tal, cabe-nos, através dela, reparar os débitos contraídos -- asseverou a instrutora. (Cap. XXII, págs. 138 a 140)

2. Efeito da prece - Em casa de Amaro, a paisagem não se alterara. Odila continuava a atormentar Zulmira, que jazia no leito, apática e desolada, como estátua viva de angústia e medo... Irmã Clara, aten­dendo ao pedido de Clarêncio, ali estava para esclarecer a infeliz mulher. Abeirando-se da genitora de Evelina, que não lhe percebia a presença, alongou os braços em prece. Gradativamente, o recinto foi invadido por vasto círculo de luz, do qual se fizera a instrutora o núcleo irradiante. Cercava-a enorme halo de dourado esplendor... As irradiações passaram, em seqüência, a tonalidades diferentes, em cír­culos fechados sobre si mesmos, caminhando dos reflexos de ouro e opala ao róseo vivo, deste ao azul celeste, daí ao verde claro e, por fim, ao violeta suave, que se transfundia em outros aspectos inacessí­veis à observação de André. Clara parecia o centro de milagroso arco-íris, cuja existência jamais André pudera vislumbrar. Odila aquietou-se do­minada por branda coação. Clara já havia atingido, conforme Cla­rêncio explicou, o total equilíbrio dos centros de força, que irradia­vam on­dulações luminosas e distintas. "Em oração, ao influxo da mente enal­tecida, emite as vibrações do seu sentimento purificado -- infor­mou o Ministro --, que constituem projeções de harmonia e beleza a lhe fluí­rem do ser". Se eles partilhassem com ela a mesma posição evolu­tiva, veriam que de seu coração nascia uma mensagem glorificada, de vez que aquelas irradiações constituíam, na verdade, música e lingua­gem, sabe­doria e amor do pensamento a expressar-se maravilhoso e vivo... Clara, transfigurada, parecia mais bela e, com um leve toque, ampliou-lhe a visão espiritual, permitindo que a primeira esposa de Amaro a visse. (Cap. XXIII, págs. 141 e 142)

3.Quem ama semeia a vida - Ofuscada pelo brilho de Clara, Odila deu um grito e começou a chorar, suplicando: "Anjo de Deus, socorre-me! socorre-me!..." Clara perguntou-lhe: "Odila, que fazes?" -- "Estou aqui, vingando-me por amor..." -- "Haverá, porém, algum ponto de con­tacto entre amor e vingança?" -- "Devo alijar a intrusa que me assal­tou a casa! Esta miserável mulher tomou-me o marido e assassinou-me o filhinho!... Quem ama faz justiça pelas próprias mãos!..." -- "Pobre filha! Quem ama semeia a vida e a alegria, combatendo o sofri­mento e a morte... Quando nosso culto afetivo se converte em flagela­ção para os que seguem ao nosso lado, não abrigamos outro sentimento que não seja aquele do desvairado apego a nós mesmos, na centralização do egoísmo aviltante. Achamo-nos à frente de infortunada irmã, arro­jada a dolo­rosa prova. Não te dói vê-la derrotada e infeliz?" -- "Ela desposou o homem que amo!..." -- "Não seria mais justo considerar que ele a des­posou?" Ao dizer isto, Clara acariciou-lhe a cabeça e aduziu: "Odila, o ciúme que não destruímos, enquanto dispomos da oportunidade de tra­balhar no corpo denso, transforma-se em aflitiva fogueira a cal­cinar-nos o coração, depois da morte. Acalma-te! A mulher de carne, que eras, precisa agora oferecer lugar à mulher de luz que deves ser. A porta do lar terrestre, onde te supunhas rainha de pequeno império sem fim, cerrou-se com os teus olhos materiais! A passagem na Terra é um dia na escola... Todos os bens que desfrutávamos no mundo de onde vie­mos constituíam recursos do Senhor que no-los concedia a título precá­rio. Por lá, raramente nos lembramos de que o tesouro do carinho do­méstico é algo semelhante a sementeira preciosa, cujos valores deve­mos estender..." Clara disse-lhe então ser preciso desenvol­ver a obra de amor no rumo da Humanidade inteira, não apenas no lar: "Temos um só Pai que é o Senhor da Bondade Infinita, que nos centra­liza as esperan­ças... Somos, assim, todos irmãos, partes integrantes de uma família só... Já te imaginaste no lugar de Zulmira, experimen­tando-lhe as di­ficuldades e aflições? Se te visses no mundo, sem a companhia dele, com os filhinhos necessitados de consolo e sustentação, não sentirias reconhecimento por alguém que te auxiliasse a protegê-los?" Odila, evidenciando sinais de angústia, replicou: "Não me fales assim! odeio a infame que nos roubou a felici­dade..." (Cap. XXIII, pp. 143 e 144)

4.Odila se afasta - Clara insistia em suas advertências: "Odila, re­flete! Esqueces-te de que a mulher sempre é mãe? O túmulo não te res­tituirá o corpo que a Terra consumiu, e, se desejas recuperar a ter­nura e a confiança do companheiro que deixaste na retaguarda, é pre­ciso saber amá-lo com o espírito. Modifica os impulsos do coração! Não suponhas Amaro capaz de querer-te, transtornada qual te encontras, en­tre as farpas envenenadas do despeito, caso chegasse, de repente, até nós..." "Ela, porém, matou meu filho!...", replicou a infeliz. "Como podes provar se­melhante acusação?", indagou Clara. "A intrusa inve­java-lhe a posição no carinho de Amaro", justificou Odila. "Sim -- disse Clara --, admito que Zulmira assim se conduzisse. E' inexpe­riente ainda e a ignorância enquanto nos demoramos na Terra pode impe­dir-nos a visão, mas não seria justo, tão somente por isso, atribuir-lhe a morte do pequenino... Medita!" Clara mostrou-lhe então que a verda­deira fraternidade a ajudaria a sentir em Zulmira uma filha sus­cetível de recolher-lhe o afeto e a orientação... Assim, em vez de forjar uma inimiga, edificaria uma amiga nobre e leal que lhe enrique­ceria a vida. Odila, nesse ponto, quase vencida, só chorava, e Clara acrescen­tou: "Sei que sofres igual­mente como mãe atormentada... Re­corda, con­tudo, que nossos filhos per­tencem a Deus... E se a morte colheu a criança que estremeces, sepa­rando-a dos braços paternais, é que a Von­tade Divina determinou o afastamento..." A Benfeitora acari­ciava-lhe a fronte, dando a impres­são de que submetia Odila a suaves operações magnéticas. Depois, acen­tuou: "Porque não te dispões a cla­rear o pró­prio caminho, a fim de re­encontrares o teu anjo e embalá-lo, de novo, em teus braços, ao invés de te consagrares inutilmente à vin­gança que te cega os olhos e enre­gela o coração?" Ao ouvir essa frase, Odila gritou: "Meu filho!... Meu filho!..." e seu pranto se fez mais angustiado e como­vente. Clara abraçou-a com carinho e disse-lhe, en­tão, que grande era a sua felicidade, porque poderia ajudar o com­panheiro que ficou na Terra, bastando-lhe uma prece de amor puro para vencer a redu­zida distância entre o seu sofrimento e o filhinho idola­trado... "Há vinte e dois séculos -- aduziu a instrutora -- es­pero por um minuto igual a este para o meu saudoso e agoniado coração, de vez que os meus amados ainda não se inclinaram para mim!..." Odila como­veu-se com tal declaração e agarrou-se a ela, prosseguindo em choro con­vulso, en­quanto Clara lhe falava: "Vamos, filha! Vamos à procura de nossa reno­vação com Je­sus!..." Em seguida, conduziu-a para fora, co­lada ao seu peito, afas­tando-a, sem qualquer violência, de Zulmira. (Cap. XXIII, págs. 144 a 146)

5.Odila se transforma - A mãe de Evelina foi internada numa institui­ção especializada, enquanto o grupo socorrista, durante sete noites consecutivas, visitou Zulmira, a fim de auxiliar o soerguimento dela. A segunda esposa de Amaro mostrava-se melhor, apesar da inércia a que se recolhera. Faltava-lhe, então, segundo explicou Clarêncio, a von­tade de lutar e viver. Era preciso dar tempo ao tempo. Transcorrida uma semana, Clara informou ao grupo que Odila havia sofrido enorme transformação. Submetida à assistência magnética, a fim de sondar o passado, ela reconhecera a necessidade de cooperar com o marido para alcançarem ambos a vitória real nos planos do espírito. Suspirava, as­sim, por reencontrar o filhinho, dispondo-se a tudo fazer para ser útil ao esposo e à Evelina. Quanto à Zulmira, combateria a repulsa es­pontânea que nutria por ela, prometendo auxiliá-la como irmã, reajus­tando-se devidamente para fortalecê-la e ampará-la. Clara sugeriu tam­bém que Amaro, na noite próxima, fosse levado até à casa de refazi­mento espiritual em que Odila se encontrava, para justo entendimento. A mãe de Júlio estava reformada e daria provas disso no encontro com o ex-marido. O pedido de Clara foi alegremente atendido. Depois da meia-noite, logo que Amaro adormeceu, foi ele conduzido à presença de sua primeira esposa. (Cap. XXIV, págs. 147 e 148)

6.Amaro revê a mulher - Logo que se viu em presença da mulher que amava, Amaro ajoelhou-se e exclamou, enlevado: "Odila!... Odila!..." A mulher, completamente transfigurada, pediu-lhe que tivesse coragem e fé, serenidade e valor na tarefa a realizar, mas ele declarou estar farto, vertendo, então, lágrimas copiosas. Odila, sustentada por Clara, alisou-lhe os cabelos e perguntou, em voz comovida: "Farto de quê?" Amaro respondeu: "Sinto-me entediado da vida... Casei-me, de novo, como deves saber, acreditando garantir a segurança de nossos filhos para o futuro, entretanto, a mulher que desposei nem de longe chega a teus pés... Fui ludibriado! Em lugar da felicidade, encontrei o desapontamento que não sei disfarçar!..." Em seguida, comentou, muito triste: "Nosso Júlio morreu num desastre, quando encerrava para mim as melhores aspirações, nossa filha se estiola num quarto sem ale­gria e a madrasta que lhes impus apodrece num leito!... Ah! Odila, po­derás compreender o que sofro? Tenho rogado a morte ao Céu para que nos reunamos na eternidade, mas a morte não vem..." A esposa, mais bela agora devido aos pensamentos redentores que lhe manavam do ser, com os olhos enevoados de pranto, disse-lhe: "Sim, Amaro, compreendo! Também eu padeci muito, no entanto, hoje reconheço que a nossa dor é agravada por nós mesmos..." E ponderou que ambos não estavam sabendo cultivar o amor na Terra para a edificação de seu paraíso espiri­tual... Odila transmitiu-lhe, então, conselhos reconfortadores, refe­rindo que também se achara assim, mas procurara no silêncio e na ora­ção o roteiro renovador. Nesse ponto, Clarêncio tocou a fronte de Amaro com a destra, para que ele se recordasse das dívidas contraídas no Paraguai, e o amigo, de posse das reminiscências fragmentárias que lhe assomavam do coração, passou a compreender que Zulmira, tal como Odila dizia, não entrara em sua vida sem motivo justo. Inspirada por Clara, Odila acentuou: "Se Zulmira foi situada no templo de nosso amor, é que nosso amor lhe deve a bênção da felicidade de que nos sen­timos possuídos..." E aduziu: "Interpretemo-la por nossa filha, por irmã de Evelina, cujos passos nos compete encaminhar para o bem. O lar não é apenas o domicílio dos corpos... E' o ninho das almas, em cujo doce aconchego desenvolvemos as asas que nos transportarão aos cumes da glória eterna". (Cap. XXIV, págs. 149 a 151)

7.Odila passa a ajudar em casa - O diálogo entre Odila e Amaro pros­seguiu por mais alguns instantes, em que ambos confessaram o mútuo amor que os unia. A primeira esposa do ferroviário disse-lhe, então, que via agora o horizonte mais largo. O carinho que se isola, a pre­texto de conservar a ventura só para si, não tem sentido. "Renovemo-nos, Amaro! Nunca é tarde para recomeçar o bem!... Trabalhemos, valo­rizando o tempo e a vida!...", exclamou a renovada mulher, enquanto seu esposo chorava convulsivamente, infundindo piedade... Odila enla­çou-o com ternura e, a convite de Clara, todos saíram para breve excur­são em grande jardim próximo. Os dois cônjuges instalaram-se em perfu­mado recanto para conversarem a sós, o que era necessário para mais seguro ajuste espiritual. A noite estava linda e flores de rara be­leza vertiam do cálice raios de claridade diurna, como pequeninos re­servatórios do esplendor solar. Clara aproveitou o ensejo para comen­tar suas viagens a outras esferas de trabalho e realização, exal­tando em cada narrativa o amor e a sabedoria do Pai Celestial. Ao avi­zinhar-se o novo dia, o grupo se aproximou do casal, que apresentava os ros­tos pacificados e radiantes. Amaro foi conduzido ao seu lar, en­quanto Odila, guardada por Clara, seguiu o grupo na romagem de volta. A es­posa de Amaro iniciaria naquele dia a sua tarefa. Às seis da manhã, Amaro acordou em excelentes disposições. Sem recordar as particulari­dades da excursão, conservava no cérebro a cer­teza de que estivera com Odila em algum lugar e a vira reanimada e feliz. Estava tão feliz que sentiu até vontade de rir e cantar... No banheiro, can­tarolou baixinho uma canção que lhe recordava o pri­meiro casamento, e tornou sorridente ao quarto de dormir. Foi então que Odila, enlaçando-o carinhosamente, propôs-lhe: "Vamos, querido! Estendamos a nossa fe­licidade! Zulmira espera por nosso amor..." (Cap. XXIV, pp. 151 a 153)

8.Sacrifício e felicidade - Amaro não ouviu, mas recebeu o apelo da esposa, e dirigiu-se à copa pensando em comunicar a Zulmira o estranho contentamento de que se via possuído. André observou que Odila estre­meceu um instante, ao ver a súbita felicidade do esposo. Seu esforço era, de fato, muito grande e mostrava que a morte do corpo não exonera o Espírito da obrigação de renovar-se. Ela, no fundo, não podia sen­tir, de imediato, plena isenção de ciúme; no entanto, aceitava o ideal de sublimação que se lhe implantara no sentimento e não parecia dis­posta a perder a oportunidade do reajuste. Anotando-lhe a queda de forças, Clara falou-lhe: "Prossigamos firmes. Todo bem que fizeres a Zulmira redundará em favor de ti mesma. Não esmoreças. Ajuda-te. A vontade, à procura do bem, realiza milagres em nós mesmos. O sacrifí­cio é o preço da felicidade". Odila repletou-se de energias novas e seus olhos brilharam outra vez. Amaro tratou Zulmira com carinho, e ela, já desacostumada com isso, espantou-se... "Escuta! Hoje, amanheci pensando em nós, em nossa felicidade..." -- declarou-lhe o esposo. "Não julgas seja tempo de reagirmos contra o sofrimento que nos cerca?" Do tórax de Amaro emanava largo fluxo de energia radiante, as­sim como um jato de raios de luz verde-prateada que envolveram o busto de Zulmira, despertando-lhe emotividade incoercível, e ela começou a chorar, dando a impressão de que os fluidos arremessados sobre ela lhe lavavam o coração. A sinceridade dispõe de recursos característicos, explicou Clarêncio: "Emite forças que não deixam margem a enganos. O sentimento puro com que Amaro se dirige agora à esposa é fator deci­sivo para que ela se reerga e se cure". (Cap. XXV, págs. 154 e 155)

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