Toda a nossa massa cinzenta!

Os alunos terminaram o hino em alturas diferentes. Por fim, só os gémeos Weasley ficaram

a cantar ao ritmo de uma marcha fúnebre. Dumbledore conduziu os últimos versos com a

varinha e, quando terminaram, foi um dos que bateram palmas com maior vigor.

— Ah! a música, — disse, limpando os olhos. — É uma magia para além da que fazemos

aqui. E agora são horas de ir para a cama. Toca a andar!

Os primeiros anos dos Gryffindor seguiram Percy através das multidões ruidosas do salão e

subiram a escadaria de mármore.

As pernas de Harry estavam de novo a comandá-lo mas, desta vez, era devido ao grande

cansaço e ao muito que tinha comido. O sono era tanto que nem achou estranho que as

imagens dos retratos que estavam pendurados nas paredes dos corredores murmurassem e

apontassem, enquanto eles iam passando e que, por duas vezes, Percy os tivesse conduzido

por portas ocultas por detrás de painéis deslizantes e tapeçarias de parede. Subiram escadas e

mais escadas, bocejando e arrastando os pés. Harry só queria saber quanto tempo mais teria

de andar quando finalmente fizeram uma paragem.

Um molho de bastões ambulantes deslocava-se, a flutuar, pelos ares, diante deles e quando

Percy deu um passo em frente, lançaram-se contra o chefe de departamento.

— Peeves —, explicou Percy aos alunos dos primeiros anos. — Um poltergeist. — Levantou

a voz — Peeves, mostra-te!

A resposta foi dada por uma voz desagradável, como o ar que sai de um balão.

— Queres que eu vá falar com o Barão Sangrento?

Ouviu-se um estoiro e um homenzinho pequenino com uns olhos escuros maldosos e uma

boca arregalada apareceu, a flutuar no ar, de pernas cruzadas, agarrando os bastões

ambulantes.

— Oooooooooooooh —, fez ele num cacarejar maldoso. — Olha os novatozinhos, que

divertido.

Num instante investiu em «voo picado» sobre eles. Desviaram-se todos e Percy rosnou

ameaçadoramente. — Vai-te embora, Peeves, ou o Barão Sangrento vai tomar conhecimento

disto.

Peeves calou-se e desapareceu, fazendo cair os bastões ambulantes sobre a cabeça do

Neville. Ouviram-no a zumbir como o motor de um avião, fazendo, por onde ia passando, uma

tremenda barulheira com a sua armadura pesada.

— Tenham cuidado com o Peeves —, disse Percy quando retomaram o caminho. — O Barão

Sangrento é o único que consegue controlá-lo. Ele não nos liga nenhuma, nem mesmo a nós,

os chefes de departamento. Cá estamos.

Mesmo ao fundo do corredor estava pendurado o retrato de uma dama gorda num vestido

de seda cor-de-rosa.

— A senha? — disse ela.

— Caput Draconis —, respondeu Percy e logo o retrato tomou balanço para a frente,

revelando um buraco redondo na parede. Todos eles passaram — o Neville precisou de uma

mãozinha — e entraram na sala comum dos Gryffindor que era uma divisão acolhedora e

redonda, cheia de confortáveis cadeirões de braços.

Percy encaminhou as raparigas para uma porta que dava para o dormitório e os rapazes

para outra. No cimo de uma escada de caracol — estavam obviamente numa das torres —

avistaram finalmente as camas. Eram cinco leitos antigos, de colunas e dossel, decorados com

tecido de veludo vermelho-escuro, igual ao dos reposteiros. Demasiado cansados para grandes

conversas, meteram-se nos pijamas e enfiaram-se nas camas.

— Grande banquete, não foi? — murmurou o Ron ao Harry, através do tecido. — Sai daqui,

Scabbers! Ele está a roer os meus lençóis.

Harry ia perguntar ao Ron se ele tinha comido tarte de melaço, mas este adormeceu antes

de ter tido tempo de ouvir a pergunta.

Talvez Harry tivesse comido um pouco de mais, porque teve um sonho bastante estranho.

Estava a usar o turbante do professor Quirrell que não parava de falar com ele e de lhe dizer

que devia pedir rapidamente transferência para os Slytherin porque o seu destino era esse.

Harry disse ao turbante que não queria ir para os Slytherin e ele começou a ficar cada vez mais

pesado. Tentou tirá-lo mas estava tão apertado que começava a magoá-lo bastante. Malfoy

ria-se, enquanto ele se debatia para tirar o turbante da cabeça. Em seguida Malfoy

transformou-se no professor Snape, o tal do nariz adunco, cujo riso se tornou agudo e frio.

Houve uma explosão de luz verde e Harry acordou a transpirar e a tremer.

Deu uma volta na cama e adormeceu de novo e quando acordou, no dia seguinte,

esquecera por completo o sonho.

VIII

O PROFESSOR DAS POÇÕES

— Olha, ali.

— Onde?

— Ao lado do miúdo alto de cabelo ruivo.

— O de óculos?

— Viste-lhe a cara?

— Viste-lhe a cicatriz?

Os murmúrios perseguiram Harry no dia seguinte desde o primeiro momento em que saiu

da camarata. As pessoas faziam fila fora das salas de aula, em bicos de pés, para conseguirem

vê-lo bem ou andavam para cima e para baixo para passarem mais uma vez por ele e poderem

olhar melhor. Harry sentia-se incomodado porque aquilo o impedia de se concentrar e não o

deixava encontrar o caminho para a sua sala de aula.

Havia cento e quarenta e duas escadarias em Hogwarts: amplas, velozes, estreitas, frágeis,

algumas que, às sextas-feiras, conduziam a um lugar diferente, outras ainda a que faltava um

degrau e que exigiam que as pessoas se lembrassem de dar o salto. Havia também portas que

só abriam se lhes fosse pedido com muita gentileza ou quando se lhes tocava com a mão num

lugar preciso e portas que não eram realmente portas e sim paredes sólidas que as imitavam.

Era muito difícil fixar o lugar das coisas porque tudo parecia estar em constante movimento. As

pessoas dos retratos não paravam de se visitar umas às outras e Harry podia garantir que as

armaduras de ferro conseguiam andar.

Os fantasmas também não ajudavam muito. Era sempre um choque desagradável quando

um deles deslizava subitamente pelo meio da porta que alguém estava a tentar abrir. O Nick

Quase-Sem-Cabeça gostava de indicar aos novos Gryffindor a direcção certa mas Peeves, o

poltergeist, arranjava sempre maneira de fazer com que duas portas não abrissem e uma

escada se tornasse traiçoeira, quando encontrava pelo caminho algum aluno atrasado para as

aulas. Lançava cestos cheios de papéis velhos à cabeça dos estudantes, puxava-lhes os tapetes

debaixo dos pés, enchia-os de pó de giz ou escondia-se atrás deles, invisível, agarrava-lhes o

nariz e gritava — PENCA! PENCA!!!

Pior ainda do que o Peeves, se é que era possível, era o encarregado, Argus Filch. Harry e

Ron conseguiram que ele os tomasse de ponta logo na primeira manhã. Filch foi encontrá-los a

tentar entrar por uma porta que, infelizmente, era a entrada para o corredor da zona proibida

do terceiro andar. Não acreditou que eles estivessem perdidos, convenceu-se de que tentavam

propositadamente entrar e estava já a ameaçar fechá-los nas masmorras quando foram salvos

pelo professor Quirrell que passava ali por acaso.

Filch tinha uma gata chamada Mrs. Norris, uma criatura magra e descarnada com uns olhos

protuberantes como faróis, parecidos com os do próprio Filch. A gata patrulhava os corredores

sozinha. Infringir uma regra em frente dela, pisar um centímetro o risco equivalia a vê-la

chamar por Filch que aparecia cheio de asma em menos de dois segundos. Filch conhecia,

melhor do que ninguém, as passagens secretas da escola (enfim, os gémeos Weasley não lhe

ficavam muito atrás) e podia deslocar-se quase tão rapidamente como os fantasmas. Todos os

estudantes o detestavam e a maior ambição de quase todos eles era poderem dar um

valentíssimo pontapé à gata Mrs. Norris.

E essas passagens secretas, uma vez que conseguissem encontra-las, continham em si

mesmas algumas lições. A magia era muito mais, como Harry ao fim de pouco tempo se

apercebeu, do que fazer um gesto com a varinha mágica e pronunciar algumas palavras

exóticas.

Tinham de estudar o céu nocturno através dos telescópios todas as quartas-feiras à meia-

noite e aprender os nomes das diferentes estrelas e os movimentos dos planetas. Três vezes

por semana iam para as estufas detrás do castelo estudar Herbologia, com um bruxo

pequenino e gordo chamado Professor Sprout, e aí aprendiam como tratar das plantas e

fungos raros e descobriam quais as suas utilizações.

A mais aborrecida de todas as matérias era, sem dúvida, a História da Magia, a única cujo

professor era um fantasma, O professor Binns era já muito velho quando uma noite

adormeceu em frente da lareira da sala comum. Na manhã seguinte, levantou-se como de

costume e foi dar aulas, só o corpo é que tinha ficado para trás.

Binns discursava sem parar enquanto eles apontavam nomes e datas, misturando Emeric, o

Cruel e Uric, o Incomparável Crânio.

O professor Flitwick, que ensinava os encantamentos, era um feiticeiro pequenino que

tinha de subir para uma pilha de livros de modo a conseguir espreitar por cima da secretária.

No princípio da sua primeira lição pegou no livro de ponto e quando chegou ao nome de Harry

ficou tão perturbado que se desequilibrou, deu um guincho e os alunos deixaram de o ver.

Bem diferente era a professora McGonagall. Harry estava certíssimo quando detectou que

ela não era pessoa para aceitar ser desobedecida. Severa e inteligente, fez-lhes um discurso

logo que eles se sentaram, na primeira lição.

— A transfiguração é uma das formas de magia mais complexas e perigosas que vocês vão

aprender em Hogwarts —, disse. — Quem criar confusões nas minhas aulas é posto fora e não

entra mais. Estão avisados.

Em seguida transformou a secretária num porco e, depois, de novo em secretária. Estavam

todos entusiasmadíssimos e ansiosos por começar, mas rapidamente se aperceberam de que

não iam transformar a mobília em animais senão muito tempo mais tarde.

Após tirarem alguns apontamentos bastante complexos, cada um recebeu um fósforo e

começou a tentar transformá-lo numa agulha. No final da aula, só Hermione Granger tinha

mudado alguma coisa no aspecto do fósforo. A professora McGonagall mostrou aos alunos

como ficara todo prateado e pontiagudo e presenteou Hermione com um sorriso, o que nela

era raro.

A matéria em relação à qual todos manifestavam maior entusiasmo era a defesa contra as

artes das trevas, mas as aulas do Quirrell acabavam por ser uma brincadeira pegada.

A sala cheirava intensamente a alho, cuja finalidade, segundo se dizia, era afastar um

vampiro que ele conhecera na Roménia e que receava pudesse vir atrás dele, quando menos

esperasse. Contou-lhes que o turbante lhe tinha sido oferecido por um príncipe africano como

prova de gratidão por tê-lo livrado de um incómodo morto-vivo, mas ninguém acreditava lá

muito naquela história porque, quando Seamus Finnigan lhe perguntou como fizera para se

livrar do morto-vivo, Quirrell começou a corar e a falar do tempo. Além disso, havia um cheiro

esquisito em volta do turbante e os gémeos Weasley insistiam em que devia estar igualmente

cheio de alho para que o professor se sentisse protegido para qualquer lugar que fosse.

Harry ficou bastante aliviado ao descobrir que não estava tão atrasado em relação aos

outros como receara. Muitos colegas tinham vindo de famílias de Muggles e, tal como ele,

ignoravam que eram bruxas e feiticeiros. Havia tanto para aprender que mesmo os que eram

como Ron não tinham, em relação aos outros, um grande avanço.

Sexta-feira foi um dia importante para Harry e Ron. Comseguiram, pela primeira vez,

encontrar o caminho para o grande salão do andar de baixo e foram tomar o pequeno-almoço

sem se perderem uma única vez.

— O que é que temos hoje? perguntou Harry ao Ron, enquanto este punha açúcar nas

papas de aveia.

— Poções duplas com os Slytherins — disse Ron. — O Snape é o líder da equipa dos

Slytherin. Dizem que os favorece sempre a eles, Vamos ver se será verdade.

— Era bom que a McGonagall nos favorecesse a nós — disse Harry. A professora

McGonagall era líder da equipa dos Gryffindor, mas isso não impedira que lhes tivesse passado

na véspera uma imensa quantidade de trabalho de casa.

Naquele momento chegou o correio. Harry já se tinha habituado mas fora um impacte

bastante forte quando, na primeira manhã, viu afluir em torrente cerca de cem corujas que

sobre voaram o salão onde os jovens tomavam o pequeno-almoço até avistarem os

respectivos donos, deixando-lhes cair no colo cartas e embrulhos.

Hedwig, até àquele momento, ainda não lhe trouxera nada. Vinha às vezes mordiscar-lhe a

orelha e pedir um pedacinho de torrada antes de ir dormir para a casa-ninho das corujas com

as suas colegas da escola. Contudo, naquela manhã, esvoaçou entre o doce de laranja e o

açucareiro e deixou-lhe cair um bilhete no prato que ele abriu imediatamente.

Querido Harry, dizia nuns gatafunhos bastante desordenados,

Sei que tens as tardes de sexta-feira livres. Não queres vir tomar um chá comigo por volta

das três horas? Gostaria de saber tudo sobre a tua primeira semana. Manda-nos uma resposta

pela Hedwig.

Hagrid

Harry pediu a pena emprestada ao Ron, escrevinhou nas costas do bilhete — Sim, por favor,

até então — e enviou Hedwig de volta.

Foi uma sorte ele ter-se encontrado com Hagrid para tomar chá porque a aula das poções

fora a pior coisa que lhe tinha acontecido desde que chegara a Hogwarts.

No início do banquete, Harry tinha ficado com a impressão de que o professor Snape não

gostava dele. No fim da primeira aula de poções Harry percebeu que se tinha enganado. Snape

não antipatizava com ele, odiava-o, pura e simplesmente.

As aulas de poções eram dadas lá em baixo, num dos calabouços. O frio ali era mais intenso

do que no resto do castelo e seria já suficientemente sinistro sem os animais embriagados

flutuando em frascos de vidro, ao longo das paredes.

Snape, tal como Flitwick, começou a aula pegando no livro de ponto e, tal como Flitwick,

parou no nome de Harry.

— Ah! sim — disse com toda a calma. — Harry Potter. A nossa nova celebridade.

Draco Malfoy e os amigos Crabbe e Goyle riram-se com a mão à frente da boca. Snape

acabou de chamar os alunos pelos nomes e olhou para a classe. Tinha uns olhos pretos como

os de Hagrid, mas faltava-lhes o calor humano. Eram vazios e gelados, lembravam a escuridão

dos túneis.

— Vocês estão aqui para aprender a ciência subtil e a arte exacta da criação de poções —,

começou. Falava quase num murmúrio mas era possível captar cada palavra. Tal como a

professora McGonagall, Snape tinha o dom de manter toda a turma calada, sem o menor

esforço. — Como vão ver muito pouco das palermices de agitar varinhas mágicas no ar, muitos

de vós terão dificuldade em compreender que isto é magia. Não espero que se apercebam em

toda a sua totalidade da beleza do caldeirão que ferve suavemente em fogo lento, com as suas

emanações difusas, do poder delicado dos líquidos que trepam vagarosamente pelas veias

humanas, enfeitiçando o espírito, iludindo os sentidos... posso ensinar-vos como agarrar a

fama, preparar a glória e pôr uma rolha à morte — se vocês não forem um grupo de broncos

como os que habitualmente tenho por alunos.

A este discurso seguiu-se um silêncio ainda maior. Harry e Ron trocaram olhares entre si, de

sobrolho franzido. Hermione Granger estava na borda da cadeira, ansiosa por mostrar que não

era nenhuma idiota.

— Potter — disse Snape subitamente. — O que é que eu conseguiria se acrescentasse raiz

triturada de asfódelo a uma infusão de absinto?

Raiz triturada de quê, a uma infusão do quê? Harry olhou para Ron que estava tão pasmado

quanto ele. A mão de Hermione ergueu-se no ar.

— Não sei, professor — disse Harry.

Os lábios de Snape ganharam uma expressão de desdém.

— Pois, pois, a fama, obviamente, não é tudo na vida.

Ignorou a mão levantada de Hermione.

— Tentemos mais uma vez, Potter, onde procurarias se eu te mandasse arranjar-me um

«Bezoar»?

Hermione esticou a mão o máximo que lhe foi possível, sem ter de se levantar da cadeira,

mas Harry não tinha a menor ideia do que seria um «Bezoar». Tentou não olhar para Malfoy,

Cabble e Goyle que riam perdidamente.

— Não sei, professor.

— Bem me parecia que não ias abrir um livro antes de começarem as aulas. Não foi, Potter?

Harry fez um esforço para aguentar aquele olhar frio. Ele tinha aberto os livros, sim, em

casa dos Dursleys, mas será que o Snape esperava que ele se lembrasse de todos os nomes

contidos no livro Um Milhar de Ervas e Fungos Mágicos?

Snape continuava a ignorar a mão palpitante de Hermione.

— Qual é a diferença, Potter, entre monkshood e acónito?

Nesse momento, Hermione pôs-se de pé, a mão esticada para o tecto da masmorra.

— Não sei —, disse Harry calmamente, — mas penso que a Hermione sabe. Porque não lhe

pergunta?

Alguns colegas riram-se. Harry captou a expressão de Seamus que estava franzida mas

Snape não se mostrava satisfeito.

— Sente-se — gritou a Hermione. — Para sua informação, Potter, asfódelo e absinto

produzem uma poção soporífera, de tal modo poderosa que é conhecida como o golo dos

mortos-vivos. «Bezoar» é uma pedra que se retira do estômago de uma cabra e que salva as

pessoas de muitos venenos. Quanto a monkshood, é outro nome para dizer acónito — são a

mesma planta. Então, não está sequer a tirar apontamentos?

Houve um movimento na sala, com todos à procura de penas e pergaminhos. Numa voz

firme, que se sobrepunha ao ruído de fundo, Snape disse: — E os Gryffindor têm um ponto

negativo, por tua causa, Potter.

As coisas não melhoraram para os Gryffindor com a continuação das aulas de poções

mágicas. Snape organizou-os em equipas de dois e pó-los a fazer uma poção simples para curar

furúnculos, Andava em volta deles com o seu ar majestoso e a sua longa capa preta, vendo-os

pesar urtigas secas e triturar dentes de serpente, tecendo críticas a quase todos com excepção

de Malfoy, com quem parecia simpatizar. Estava justamente a chamar a atenção da turma

para o modo impecável como o Malfoy tinha estufado os cornos de lesma, quando nuvens e

nuvens de fumo ácido e um sibilar intenso encheram a masmorra. Não se sabe como, o Neville

tinha conseguido derreter o caldeirão do Seamus, transformando-o numa mancha retorcida,

enquanto a poção se espalhava pelo soalho de pedra, fazendo buracos nos sapatos de toda a

gente. Em poucos segundos, a turma inteira tinha subido para cima dos bancos enquanto o

Neville, que ficara ensopado pela poção quando o caldeirão se desfez, gemia cheio de dores à

medida que umas bolhas ver meihas e ameaçadoras se lhe espalhavam ao longo dos braços e

das pernas.

— Seu miúdo idiota! — praguejou Snape, limpando a poção com um golpe da varinha

mágica. — Misturaste com certeza os espinhos do porco-espinho antes de retirar o caldeirão

do lume.

Neville choramingou enquanto as bolhas começavam a cobrir -lhe o nariz.

— Levem-no para a ala hospitalar —, disse Snape encolerizado ao Seamus. Em seguida foi

vigiar Harry e Ron que tinham estado a trabalhar ao lado do Neville.

— E tu, Potter, porque é que não o avisaste para não pôr os espinhos? Achaste que

sobressaías se ele fizesse uma asneira da grossa, não foi? Acabas de perder outro ponto para

os Gryffindor.

Aquilo era tão injusto que Harry abriu a boca para argumentar, mas Ron deu-lhe um

valente pontapé por detrás do caldeirão.

— Não piores as coisas —, murmurou. — Ouvi dizer que o Snape é mesmo muito mauzinho.

Uma hora mais tarde, quando subiam as escadas para abandonar o calabouço, a mente de

Harry andava a mil à hora e o seu ânimo estava de rastos. Tinha feito perder dois pontos aos

Gryffindors, logo na primeira semana. Por que motivo o Snape lhe teria tamanho ódio?

— Anima-te, pá — disse-lhe Ron. — O Snape está sempre a tirar pontos ao Fred e ao

George. Posso ir contigo conhecer o Hagrid?

As cinco para as três saíram do castelo através das caves. Hagrid vivia numa pequena casa

de madeira na orla da floresta proibida. Do lado de fora da porta principal estavam uma arma

e um par de galochas.

Quando Harry bateu à porta, ouviu-se um esgravatar inquieto e o fortíssimo ladrar de um

animal. Em seguida a voz de Hagrid ressoou, dizendo: — Para aqui Fang (dente de víbora), para

trás.

O grande rosto barbudo do gigante surgiu num segundo, mal este abriu a porta.

— Quieto — voltou a dizer. — Para trás, Fang. — Convidou-os a entrar, debatendo-se para

segurar a coleira de um enorme cão de caça.

A casa tinha apenas uma divisão. Do tecto pendiam presuntos e faisões. No lume aceso

fervilhava uma chaleira de cobre e ao canto da sala via-se uma cama enorme e maciça, coberta

com uma colcha de retalhos.

— ‘Tejam à vontade, — disse Hagrid, largando Fang que foi direito ao Ron e começou a

lamber-lhe as orelhas. Tal como o dono, Fang não era tão feroz quanto parecia.

— Este é o Ron — disse o Harry ao Hagrid que estava a deitar água a ferver num grande

bule e a colocar bolos duros num prato.

— Outro Weasley, hein? — disse Hagrid, olhando para as sardas do Ron. — Eu tenho

passado metade da minha vida a correr com os teus irmãos gémeos da floresta proibida.

Os bolos duros quase lhes partiram os dentes, mas Harry e Ron fingiram gostar muito

enquanto iam contando a Hagrid tudo sobre as primeiras aulas. Fang apoiou a cabeça nos

joelhos de Harry e babou-lhe a capa toda.

Os dois adoraram ouvir Hagrid chamar ao encarregado Filch «aquele velho imbecil».

— E a gata, a Mrs. Norris, um dia destes ‘inda lhe apresento o Fang. Sabem qu’ela, todas as

manhãs quando me levanto p’ra ir prà escola, começa logo a andar atrás de mim. Ele manda-a

seguir-me o dia todo.

Harry contou a Hagrid o que sucedera na aula do Snape. Hagrid, tal como o Ron, disse-lhe

que não se preocupasse, que o Snape dificilmente gostava de algum aluno.

— Mas ele parecia mesmo detestar-me.

— Tolice! — disse Hagrid. — Porquê?

Mas Harry não conseguia deixar de pensar que Hagrid afastara os olhos ao fazer aquela

afirmação.

— Como vai o teu irmão Charlie? — perguntou Hagrid ao Ron. — Eu gostava muito dele.

Era sensacional com os animais.

Harry questionou-se se ele teria mudado de assunto estrategicamente. Enquanto Ron

contava tudo sobre o trabalho de Charlie com os dragões, Harry pegou num pedaço de papel

que estava sobre a mesa, debaixo do abafador do chá. Era um recorte do Profeta Diário:

RECENTE ASSALTO A GRINGOTTS

Continuam as investigações sobre o assalto a Gringotts, em 31 de Julho, que se acredita ser

da autoria de feiticeiros ou bruxas ligados às trevas e cuja identidade ainda se desconhece.

Os duendes de Gringotts insistiram hoje em que nada foi retirado. O cofre que foi rebuscado

pelos assaltantes tinha sido esvaziado nesse mesmo dia.

— Mas não vamos dizer-vos o que ele continha, portanto, se não querem problemas,

deixem as coisas ficar como estão — afirmou um dos porta-vozes de Gringotts.

Harry lembrava-se de Ron lhe ter contado que alguém tentara assaltar Gringotts mas não

tinha mencionado a data.

— Hagrid! — disse Harry. — O assalto a Gringotts ocorreu no dia do meu aniversário! Pode

ter-se dado enquanto nós lá estávamos!

Não havia dúvidas. Desta vez Hagrid evitou mesmo os olhos dele. Ofereceu-lhe outro bolo

duro. Enquanto isso, Harry voltou a ler a notícia. O cofre que foi rebuscado tinha de facto sido

esvaziado nesse mesmo dia. Hagrid tinha esvaziado o cofre sete centos e treze, se é que podia

chamar-se «esvaziar» a retirar lá de dentro aquele pacotezinho nojento. Seria aquilo que os

ladrões procuravam?

Quando Harry e Ron regressaram ao castelo, para o jantar, traziam os bolsos pesados com

os bolos duros que, por uma questão de educação, não tinham tido coragem de recusar. Para

Harry nenhuma das aulas que tivera até então lhe dera tanto que pensar como aquele lanche

com Hagrid. Teria ele ido buscar o pacote mesmo na hora certa? Onde estaria agora? E,

saberia Hagrid alguma coisa sobre o Snape que não lhes quisera dizer?

IX

O DUELO DA MEIA-NOITE

Nunca tinha passado pela cabeça do Harry que fosse possível vir a encontrar um rapaz que

ele detestasse mais do que o Dudley, mas isso foi antes de ter conhecido Draco Malfoy.

Felizmente, os Gryffindor do primeiro ano só tinham a aula de poções em conjunto com os

Slytherin, por isso não eram obrigados a conviver muito tempo com o Malfoy. Ou, pelo menos,

essa era a regra até ao dia em que foram encontrar espetado no placard da sala comum dos

Gryffindor uma notícia que os pôs a todos maldispostos. As lições de voo iam começar na

próxima quinta-feira e Gryffindor e Slytherin teriam essa aula em conjunto.

— Óptimo —, disse Harry ironicamente, — o melhor que podia acontecer-me. Fazer figura

de parvo em cima de uma vassoura diante do Malfoy.

Aprender a voar era uma das suas maiores expectativas.

— Tu não vais fazer figura de parvo, coisa nenhuma — disse o Ron usando a lógica. — Além

disso, o Malfoy anda sempre a dizer que é o maior em Quidditch mas eu aposto que é só

garganta.

Malfoy falava mesmo muito de voar. Queixava-se bem alto de os primeiros anos não

fazerem parte dos clubes de Quidditch e contava gabarolices sem fim que acabavam sempre

com ele a escapar por um triz aos Muggles que o perseguiam em helicópteros. Mas não era ele

o único: Seamus Finnigan contou que passara a maior parte da infância sobrevoando os

campos, em cima da sua vassoura. Até o Ron se gabava, para quem o quisesse ouvir, de quase

ter chocado com um planador na velha vassoura do seu irmão Charlie.

Todos os que pertenciam a famílias de feiticeiros falavam constantemente do Quidditch.

Ron já tinha tido com Dean Thomas, que partilhava com eles o dormitório, uma discussão

calorosa sobre futebol. Ron não achava nada interessante um jogo em que havia apenas uma

bola e onde era proibido voar. Harry fora dar com Ron a picar o póster do Dean que

representava a equipa de futebol de West Ham e tentando fazer com que os jogadores se

mexessem.

Neville nunca tinha experimentado uma vassoura em toda a sua vida porque a avó nunca o

deixara aproximar-se de tal objecto. Aqui para nós, o Harry achava que ela tinha toda a razão

porque o Neville já conseguia ter uma imensa quantidade de acidentes mesmo com os dois

pés bem assentes no chão.

Hermione Granger estava quase tão nervosa com a ideia de voar como o Neville. Tratava-se

de uma coisa que não podia aprender-se, de cor, não que ela não tivesse tentado. Na quinta-

feira, ao pequeno-almoço chateou-os mortalmente com as informações sobre voo que tinha

conseguido obter num livro da biblioteca chamado O Quidditch através dos Tempos. O Neville

bebia-lhe as palavras, tal era a sua ânsia de descobrir alguma coisa que o ajudasse a agarrar-se

à vassoura, mas todos os outros sentiram um imenso alívio com a chegada do correio.

Harry não voltara a receber nenhuma carta depois do convite de Hagrid, facto no qual

Malfoy reparara, claro, O mocho-real do Malfoy estava sempre a trazer-lhe pacotes de doces

de casa que ele abria com um sorriso maldoso à mesa dos Slytherin.

Uma coruja de celeiro trouxe ao Neville um pequeno embrulho da avó. Ele abriu-o com

grande excitação e mostrou aos colegas uma bola de vidro do tamanho de um grande berlinde

que parecia cheia de um fumo branco.

— É um Lembrador! — explicou. — A minha avó sabe que eu passo a vida a esquecer-me

de tudo. Isto diz-nos se há coisas de que nos estamos a esquecer. Olha, apertas assim e se ficar

vermelha.., oh! — Ficou aflitíssimo porque o Lembrador tornou-se vermelho-escarlate.—

Esqueci—me... de qualquer coisa...

Neville estava a fazer um esforço enorme para tentar lembrar-se do que tinha esquecido

quando Draco Malfoy, que passava naquele momento pela mesa dos Gryffindor, lhe arrancou

o Lembrador das mãos.

Harry e Ron puseram-se de pé, num salto. De certo modo esperavam um pretexto para dar

uns socos ao Malfoy mas a professora McGonagall, que conseguia sempre acabar com os

conflitos mais depressa do que qualquer outro professor da escola, chegou num rompante.

— O que é que se passa aqui?

— O Malfoy tirou-me o meu Lembrador, professora.

Com ar de poucos amigos, Malfoy pôs novamente o Lembrador em cima da mesa. — Estava

só a ver —, disse enquanto se afastava seguido do Crabbe e do Goyle.

Às três e meia da tarde, Harry, Ron e os outros Gryffindor desceram apressadamente a

escadaria principal, dirigindo-se aos campos para a sua primeira lição de voo. Estava um dia

claro e ventoso e a relva ondulava debaixo dos pés dos jovens que desceram pelos declives até

chegarem a um relvado macio, do lado oposto aos campos da floresta proibida, onde as

árvores sombrias balançavam à distância.

Os Slytherin já se encontravam todos lá, assim como as vinte vassouras, alinhadas no chão.

Harry tinha ouvido Fred e George Weasley queixarem-se das vassouras da escola, dizendo que

algumas começavam a vibrar se o aluno voava muito alto ou durante o voo puxavam um

pouco para a esquerda.

A professora, Madame Hooch, chegou. Tinha cabelos curtos e grisalhos e uns olhos

amarelados como os de um falcão.

— Então, de que é que estamos à espera? — grunhiu. — Cada um junto da sua vassoura.

Vá, despachem-se.

Harry deitou um olhar à sua vassoura. Tinha um aspecto velho e algumas das nervuras do

cabo eram salientes e formavam estranhos ângulos.

— Estendam a vossa mão direita ao longo da vassoura —, gritou Madame Hooch, — e

digam De pé.

— De pé — gritaram todos.

A vassoura de Harry saltou-lhe para a mão, de imediato, mas foi uma das poucas que o

fizeram. A de Hermione Granger limitou-se a rolar no chão e a do Neville nem se mexeu. Talvez

as vassouras, à semelhança dos cavalos, soubessem distinguir quem tinha medo, pensou

Harry. Havia um tremor na voz do Neville que mostrava claramente que a última coisa que ele

queria na vida era levantar os pés do chão.

Madame Hooch mostrou-lhes então como montar nas vassouras sem escorregar pelo cabo

e andou, de um lado para o outro, a corrigir-lhes as posturas e o modo de se agarrarem. Harry

e Ron adoraram quando ela disse ao Malfoy que ele andava há anos a fazer tudo ao contrário.

— Bem, quando eu apitar vocês levantam do chão com toda a força — disse Madame

Hooch. — Mantenham as vassouras firmes, subam cerca de um metro e em seguida recuem,

inclinando-se ligeiramente para trás. Quando eu assobiar.., três.., dois...

Mas o Neville, tal era o nervosismo, a agitação e o medo de ficar no chão, puxou com força

antes de o apito ter sequer tocado os lábios de Madame Hooch.

— Volta aqui, rapaz! — gritou ela mas Neville elevava-se a pique como uma rolha de cortiça

que tivesse saltado de uma garrafa. Três metros, cinco metros... Harry viu a sua expressão

apavorada a olhar para baixo, viu-o escorregar pela borda da vassoura e…

SPLASH! Um ruído surdo, uma forte pancada e o Neville caído, com a cara na relva, feito

num feixe. A vassoura estava ainda a subir, cada vez mais alto e começava a ser

indolentemente levada em direcção à floresta proibida.

Madame Hooch estava inclinada sobre o Neville com o rosto tão pálido quanto o dele.

Harry ouviu-a murmurar: — Pulso quebrado. Vá lá, rapaz, está tudo bem, levanta—te!

Voltou-se para o resto da classe.

— Nenhum de vocês sai daqui enquanto eu vou levar este rapaz à ala hospitalar. Deixem as

vassouras no lugar em que estão ou vão parar fora de Hogwarts antes de terem tempo de

dizer «Olá, Quidditch!»

Madame Hooch pôs o braço em volta de Neville que coxeava, agarrado ao pulso, com a

cara cheia de lágrimas.

Mal eles desapareceram, Malfoy rebentou a rir a bandeiras despregadas.

— Viram a cara do grande pastel?

Os outros Slytherin juntaram-se à risota.

— Está calado, Malfoy — disse bruscamente Parvati Patil.

— Ah! tomando o partido do Longbottom? — disse Pansy Parkinson, uma rapariga de

feições duras que pertencia aos Slytherm.

— Não te imaginava a gostar de bebés chorões, Parvati.

— Olhem! — disse Malfoy, inclinando-se e apanhando algo do relvado. — É aquela coisa

estúpida que a avó do Longbottom lhe mandou.

O Lembrador brilhou ao sol quando ele lhe pegou.

— Dá cá isso, Malfoy — disse o Harry com a maior das calmas. Toda a gente se calou para

observar.

Malfoy sorriu com ar mesquinho.

— Acho que vou deixá-lo algures por aqui para o Longbottom o vir buscar. Que tal em cima

de uma árvore?

— Dá cá isso — berrou Harry, mas o Malfoy tinha subido para a vassoura e desaparecera.

Não era mentira. Ele sabia voar. A altura de um dos ramos mais altos de um carvalho gritou: —

Vem buscá—lo, Potter!

Harry pegou na vassoura.

— Não — tentou impedir Hermione Granger. — Madame Hooch disse para não lhes

mexermos. Vais arranjar sarilhos.

Harry ignorou-a. O sangue fervia-lhe nas veias. Subiu para a vassoura, pressionou com força

contra o chão, o ar passou-lhe rapidamente pelos cabelos, a capa esvoaçou atrás dele e num

misto de alegria e orgulho apercebeu-se de que sabia fazer algo que ninguém lhe tinha

ensinado — era fácil, era fantástico. Ele vou um pouco mais a vassoura e ouviu gritos e

suspiros das raparigas lá em baixo e a ovação de Ron.

Voltou-se na vassoura, directamente para encarar Malfoy no ar. O outro parecia

atarantado.

— Dá cá isso —, gritou Harry — ou atiro-te dessa vassoura abaixo!

— Ah! sim? — disse Malfoy em tom de chacota, mas com alguma preocupação na voz.

Harry sabia, estranhamente, o que deveria fazer. Inclinou-se para trás, agarrou a vassoura

cautelosamente com ambas as mãos e esta disparou contra Malfoy como um dardo. Este mal

teve tempo de fugir. Harry fez uma curva brusca e manteve a vassoura bem segura. Cá em

baixo alguns dos colegas batiam entusiasticamente palmas.

— Não tens aqui o Crabbe nem o Goyle para te servirem de guarda-costas, Malfoy — disse

o Harry.

O mesmo pensamento parecia ter cruzado a mente de Malfoy.

— Apanha se fores capaz! — gritou ele, atirando ao ar a bola de vidro que começou a

descer direita ao chão. Harry inclinou a vassoura para trás e dirigiu-a para baixo — um segundo

depois descia a toda a velocidade atrás da bola —, o vento assobiava-lhe aos ouvidos. A

centímetros do chão agarrou-a, mesmo a tempo de pôr a vassoura direita e pousá—la

delicadamente no relvado com o Lembrador a salvo, na mão.

— HARRY POTTER!

O seu coração começou a bater com toda a força. A professora McGonagall vinha a correr

na direcção deles, Os pés de Harry tremiam.

— Nunca, em todos estes anos em Hogwarts... — A professora McGonagall quase não

conseguia falar com o choque e os óculos faiscavam de ira: — Como te atreves, podias ter

partido o pescoço...?

— Ele não teve a culpa, professora.

— Cale-se, menina Patil...

— Mas o Malfoy...

— Chega, Ron Weasley. Potter, venha imediatamente comigo.

Harry viu pelo canto do olho o ar triunfante de Malfoy, Crabbe e Goyle enquanto seguia,

meio entorpecido, a professora McGonagall até ao castelo. Ia com certeza ser expulso. Era o

que ia acontecer. Queria dizer qualquer coisa para se defender mas parecia ter-lhe acontecido

algo estranho à voz. A professora McGonagall avançava sem sequer olhar para ele. Harry teve

de se apressar para conseguir acompanhá-la. Tinha-a feito bonita! Nem chegara a duas

semanas. Dentro de dez minutos ia estar a fazer as malas. E o que diriam os Dursleys quando o

vissem aparecer-lhes de novo à porta?

Subiram os degraus da entrada, os da escadaria de mármore e a professora McGonagall

continuava a não lhe dirigir a palavra. Abriu violentamente as portas e percorreu os corredores

com Harry atrás dela num passo rápido e infeliz.

Talvez fosse levá-lo à presença de Dumbledore. Lembrou-se de Hagrid expulso mas a quem

foi permitido ficar como guarda dos campos. Talvez ele pudesse ser assistente do Hagrid. Mas

o estômago contorceu-se perante a ideia de ver o Ron e os outros tornarem-se feiticeiros

enquanto ele andava por ali transportando o saco do Hagrid.

A professora McGonagall parou à porta de uma sala de aula. Entreabriu-a e enfiou lá dentro

a cabeça.

— Desculpe, professor Flitwick, posso roubar-lhe o Wood por uns minutos?

—Wood? — pensou Harry, confuso. Seria o Wood (madeira) um pau com que ia bater-lhe?

Mas afinal o Wood era uma pessoa, um rapaz corpulento do quinto ano que saiu da aula do

Flitwick com um ar baralhado.

— Atrás de mim, vocês os dois — disse a professora McGonagall e eles assim fizeram,

seguindo-a pelo corredor fora, o Wood olhando cheio de curiosidade para Harry.

— Aqui.

A professora McGonagall fez-lhes sinal para que entrassem numa sala de aula vazia, onde

Peeves, o fantasma, estava a escrever obscenidades no quadro.

— Fora daqui, Peeves! — rosnou ela. O Peeves atirou o giz para um caixote de lata que

ressoou fortemente e saiu a praguejar. McGonagall fechou a porta e voltou-se para os dois

rapazes.

— Potter, este é Oliver Wood. Wood, encontrei-te um seeker!

A expressão de Wood mudou da confusão para uma satisfação imensa.

— Está a falar a sério, professora?

— O mais a sério que é possível — disse a professora McGonagall, rápida e confiante. — O

rapaz tem um dom natural, nunca vi nada assim. Foi a tua primeira vez numa vassoura, Potter?

Harry acenou afirmativamente. Não tinha a menor ideia do que estava a passar-se mas não

lhe parecia que estivesse para ser expulso e começou a pouco e pouco a sentir de novo as

pernas.

— Ele agarrou aquela coisa com a mão depois de um mergulho de um metro e meio —

disse a professora McGonagall ao Wood. Não fez um único arranhão. Nem Charlie Weasley o

teria conseguido.

Wood tinha agora a expressão de quem acaba de ver realizados todos os seus sonhos.

— Alguma vez viste um jogo de Quidditch, Potter? — perguntou excitado.

— O Wood é o capitão do clube dos Gryffindor — explicou ela.

— Ele até tem a estrutura de um seeker — disse o Wood que andava à volta de Harry a

observá-lo. — Leve, rápido, temos de lhe arranjar uma boa vassoura, professora — uma

Nimbus dois mil ou uma Cleansweep sete, não acha?

— Eu vou falar com o professor Dumbledore e ver se conseguimos tornear essa regra do

primeiro ano. Bem precisamos de um clube melhor do que o do ano passado. Humilhados no

último campeonato pelos Slytherin, nem consegui olhar Severus Snape nos olhos durante

várias semanas...

A professora McGonagall examinou rigorosamente Harry por cima dos óculos.

— Quero ouvir dizer que treinas a sério, Potter, ou posso mudar de ideias sobre o castigo.

— Em seguida sorriu-lhe abertamente.

— O teu pai ficaria muito orgulhoso — disse. — Ele também era um excelente jogador de

Quidditch.

— Estás a gozar!

Era a hora do jantar e Harry tinha acabado de relatar ao Ron todos os acontecimentos. Ron

tinha um pedaço de bife e empadão de batata a meio caminho da boca mas esquecera-se

deles por completo.

— Seeker — disse. — Mas os primeiros anos nunca... tu deves ser o jogador mais novo em

cerca de...

— Um século — completou Harry, começando a comer o empadão. Sentia-se esfomeado

depois de toda a excitação daquela tarde. — Disse-me o Wood.

Ron estava tão pasmado, tão aparvalhado que não parava de olhar para o amigo.

— Começo a treinar para a semana — disse ele, — mas não contes nada a ninguém. O

Wood quer manter isso em segredo.

Fred e George Weasley chegaram naquele momento ao salão, reconheceram Harry e

comentaram de imediato:

— Boa — disse o George em voz baixa. — O Wood contou-nos. Nós também fazemos parte

da equipa como beaters.

— Não tenho dúvidas de que este ano vamos ganhar a taça de Quidditch — disse o Fred. —

Nunca mais ganhámos desde que o Charlie se foi embora, mas este ano a equipa vai ser

briihante. Tu deves ser mesmo bom, Harry. O Wood estava quase aos saltos quando nos falou

de ti.

— Bem, mas temos que ir indo, O Lee Jordan acha que encontrou uma nova passagem

secreta para sair da escola.

— Espero que não seja aquela atrás da estátua do Gregory, o Bajulador, que nós

descobrimos na primeira semana. Até logo.

Fred e George mal tinham acabado de sair quando apareceu alguém muito pouco bem-

vindo: Malfoy, escoltado por Crabbe e Goyle.

— Estás a tomar a tua última refeição, Potter? Quando apanhas o comboio que te vai levar

de novo aos Muggles?

— Estás muito mais corajoso agora, com os dois pés no chão e os teus pequenos amigos ao

lado — disse Harry com frieza.

Crabbe e Goyle não tinham nada de «pequeno» mas como a mesa principal estava cheia de

professores, nenhum deles pôde reagir, limitando-se portanto a estalar os dedos, lançando a

Harry um olhar ameaçador.

— Entendo-me contigo noutra altura — disse Malfoy. — Hoje mesmo, se quiseres. Um

duelo de feiticeiros. Só com varinhas, sem contacto. Qual é o problema? Nunca ouviste falar

numduelo de varinhas?

— É claro que sim — disse Ron, rodeando a questão. — Eu sou o segundo dele, quem é o

teu?

Malfoy olhou para Crabbe e Goyle como que a medi-los.

— Crabbe —, disse. — À meia-noite, está certo? Encontramo-nos na sala dos troféus que

está sempre aberta.

Quando Malfoy se afastou, Ron e Harry olharam um para o outro.

— O que é um duelo de feiticeiros? — perguntou Harry. — E o que é isso de seres o meu

segundo?

— Bem, o segundo está lá para te substituir se tu morreres — disse o Ron com toda a

naturalidade, começando finalmente a comer o empadão já frio. Mas, ao reparar no olhar do

Harry, acrescentou rapidamente: — Mas só se morre nos duelos a sério, com verdadeiros

feiticeiros, O máximo que tu e o Malfoy podem conseguir é lançar faíscas um ao outro.

Nenhum dos dois tem conhecimentos suficientes de magia para fazer realmente mal. Aposto

que ele estava à espera que tu recusasses.

— E se eu fizer o gesto com a varinha e não acontecer nada?

— Deita-a ao chão e dá-lhe um soco no nariz —, foi a sugestão do Ron.

— Desculpem...

Voltaram-se os dois e olharam. Era Hermione Granger.

— Já não se pode comer em paz nesta instituição? — resmungou o Ron.

Hermione fingiu não ter ouvido e dirigiu-se ao Harry.

— Não pude deixar de escutar o que tu e o Malfoy estavam a dizer.

— Aposto que não pudeste mesmo —, voltou a resmungar o Ron.

— E... não deves andar a passear pela escola à noite. Pensa nos pontos que vais fazer

perder aos Gryffindor se fores apanhado que é o mais certo. É uma atitude de grande egoísmo

da tua parte.

— E tu não tens nada a ver com isso — disse Harry.

— Adeusinho disse o Ron.

Mas a verdade é que aquela não era a melhor maneira de acabar o dia, pensou Harry,

enquanto se mantinha acordado à espera que o Dean e o Seamus adormecessem (o Neville

ainda não voltara da ala hospitalar). O Ron tinha passado toda a noite a dar-lhe conselhos tais

como: — Se ele tentar rogar-te uma praga, esquiva-te porque eu não me lembro de como se

faz para a bloquear.

Havia bastantes possibilidades de serem apanhados pelo Filch ou pela gata Mrs. Norris e

Harry achava que estava a abusar um pouco da sorte, quebrando duas regras num só dia. Por

outro lado, o ar cínico do Malfoy não lhe saía da cabeça e esta era a sua grande oportunidade

de o vencer cara a cara. Não podia desperdiça-la.

— Onze e meia —, murmurou o Ron finalmente. —É melhor irmos indo.

Saltaram para os roupões num abrir e fechar de olhos, pegaram nas varinhas e

esgueiraram-se da camarata do alto da torre pelas escadas de caracol até à sala comum dos

Gryffindor. Na lareira crepitavam ainda algumas achas cuja luz ténue transformava os

cadeirões em estranhas sombras negras. Estavam quase a chegar junto do buraco atrás do

retrato quando uma voz se fez ouvir, vinda da cadeira mais próxima deles: — Não posso

acreditar que vás mesmo fazer isto, Harry!

Acendeu-se uma luz. Era Hermione Granger que, dentro do seu roupão cor-de-rosa,

ostentava um ar carrancudo.

— Vai imediatamente para a tua cama — disse o Ron, furioso.

— Eu, por pouco, dizia ao teu irmão — respondeu agressiva Hermione. — 0 Percy é chefe

de departamento e acabava logo com isto.

Harry tinha dificuldade em admitir que alguém pudesse ser tão interferente.

— Anda — disse ele ao Ron. Empurrou o retrato da dama gorda e passou pelo buraco.

Mas Hermione não estava disposta a desistir com essa facilidade toda. Seguiu o Ron pelo

buraco, matraqueando-os numa voz sibilante que lembrava um ganso zangado.

— Vocês não se preocupam com os Gryffindor, só pensam em vocês próprios. Eu não quero

que os Slytherin ganhem a Taça e vocês os dois vão conseguir perder todos os pontos que eu

ganhei para eles com a professora McGonagall por conhecer os feitiços das mutações.

— Vai-te embora.

— Está bem mas eu avisei-vos. Lembrem-se disso amanhã, quando vos meterem no

comboio de regresso a casa, vocês são tao...

Mas ficaram ambos sem saber o que eram porque Hermione, que se virara para o retrato

da dama gorda, dera consigo em frente de um quadro vazio. A dama gorda tinha ido fazer uma

visita nocturna e Hermione estava fechada do lado de fora da torre dos Gryffindor.

— O que é que vou fazer agora? — perguntou com a sua voz esganiçada. — Problema teu

— disse o Ron. — Nós temos de ir senão chegamos atrasados.

Ainda não tinham atingido o fundo do corredor quando Hermione os apanhou.

— Vou com vocês —, disse.

— Não vens, não.

— Pensam que vou ficar aqui à espera que o Filch me descubra? Se ele nos encontrar aos

três, eu digo a verdade, que estava a tentar fazer-vos voltar para trás comigo.

— Tu tens cá uma lata... — disse o Ron em voz alta.

— Calem-se os dois! — interrompeu Harry. — Ouvi qual quer coisa.

Era uma espécie de fungadela.

— Mrs. Norris? — sussurrou o Ron, tentando vislumbrar algo na escuridão.

Não era Mrs. Norris. Era o Neville que estava todo enrolado no chão, num sono profundo e

que acordou subitamente quando eles se aproximaram.

— Graças a Deus, encontraram-me! Estou aqui há horas. Esqueci-me da palavra de senha

para chegar ao quarto.

— Fala baixo, Neville. A senha é Focinho de Porco mas neste momento não te serve de

nada. A dama gorda saiu do retrato e foi dar um passeio.

— Como está o teu braço? — perguntou Harry.

— Óptimo — disse o Neville mostrando-o. — A Madame Pomfrey tratou dele num minuto.

— Bem, olha, Neville, nós temos de ir tratar de um assunto, vemo-nos mais tarde...

— Não me deixem aqui — pediu o Neville, pondo-se de pé.

— Não quero ficar sozinho, o Barão Sangrento já passou por mim duas vezes.

Ron consultou o relógio e lançou um olhar furioso a Her mione e a Neville.

— Se algum de nós for apanhado, não descanso enquanto não aprender aquela praga dos

maus espíritos de que o Quirrell nos falou para a lançar sobre vocês.

Hermione abriu a boca, provavelmente para dizer ao Ron como era a praga dos maus

espíritos, mas Harry fez-lhes sinal para se calarem e para o seguirem.

Percorreram os corredores, descobertos por barras de luar que entravam pelas clarabóias.

De cada vez que eram iluminados, Harry esperava esbarrar com Filch ou com a gata, Mrs.

Norris, mas tiveram sorte. Subiram a grande velocidade uma escada que levava ao terceiro

andar e foram em bicos de pés até à sala dos troféus.

Malfoy e Crabbe ainda não tinham chegado. Os cofres de cristal dos troféus brilhavam

quando o luar os iluminava. Taças, medalhas, pratos e estatuetas de ouro e prata cintilavam no

escuro.

Eles deslocaram-se encostados às paredes, com os olhos postos nas portas de ambos as

extremidades da sala. Harry pegou na varinha, não fosse o Malfoy saltar-lhe à frente quando

ele menos esperasse para começar a luta.

— Ele está atrasado, talvez à última hora tenha tido medo —,

suspirou o Ron.

Nesse momento, um barulho na sala ao lado fê-los sobressaltarem-se. Harry tinha acabado

de erguer a varinha quando ouviu uma voz — e não era a do Malfoy.

— Cheira, cheira, minha linda, eles devem estar escondidos para aí num canto.

Era Filch a falar com a gata, Mrs. Norris. Foram tomados de pânico. Harry fez sinais

desesperados aos outros três para que o seguissem o mais depressa possível. Escaparam à

socapa pela porta, para bem longe da voz do Filch. O manto do Neville tinha acabado de varrer

a esquina quando ouviram Filch entrar na sala dos troféus.

— Eles estão por aqui, de certeza — ouviram-no resmungar. — Provavelmente escondidos.

— Por este lado! — disse Harry aos outros e, cheios de medo, começaram a descer uma

longa galeria cheia de armaduras. Ouviam o Filch aproximar-se. Subitamente o Neville deu um

grito de pavor e desatou a correr — tropeçou, embrulhou-se no Ron e os dois foram cair sobre

uma armadura de ferro.

O barulho foi tal que poderia ter acordado toda a gente no castelo.

— CORRAM! — gritou Harry e os quatro desembestaram a toda a velocidade, sem sequer

olhar para trás e ver se o Filch os seguia ou não — viraram na ombreira e galgaram um

corredor atrás do outro com Harry à frente sem ter a mínima ideia de onde estavam nem para

onde iam. Passaram através de uma tapeçaria e encontraram-se numa passagem secreta,

deslocaram-se a grande velocidade através dela e foram dar perto da sala da aula de

encantamentos que sabiam ficar a milhas da sala dos troféus.

— Acho que os despistámos — disse Harry que mal conseguia respirar, encostando-se à

parede fria e limpando a testa. O Neville estava dobrado para a frente arfando com a sua

respiração de asmático.

— Eu disse-vos... — suspirou Hermione, agarrando-se ao peito onde sentira uma pontada.

— Eu... disse-vos...

— Temos de voltar à torre dos Gryffindor afirmou o Ron.

— O mais depressa possível.

— O Malfoy passou-te uma rasteira — disse Hermione ao Harry. — Percebeste isso ou

ainda não? Ele não tinha a menor intenção de ir ter contigo. Por outro lado, o Filch sabia que

alguém ia estar na sala dos troféus. O Malfoy deve tê-lo avisado.

Harry pensou que muito provavelmente ela tinha toda a razão mas achou melhor não lho

dizer.

— Vamos embora.

Não ia ser tão simples como isso. Não tinham dado nem doze passos quando uma

maçaneta girou ruidosamente e algo saiu aos tiros de uma sala de aula mesmo em frente.

Era Peeves que dera pela presença deles e ficara deliciado.

— Cala-te, Peeves, se fazes favor, ainda consegues que nos expulsem.

Peeves deu uma gargalhada vitoriosa.

— A vaguear por aqui à meia-noite, novatozinhos? Ah! Ah! Ah!, vão ser apanhados.

— Não, se tu não nos entregares, Peeves. Por favor.

— Eu devia dizer ao Filch, devia sim — disse o Peeves com um tom de voz virtuoso que

contrastava com o maquiavélico brilho dos olhos. — É para o vosso bem...

— Sai da frente — disse asperamente Ron, cometendo o grave erro de lhe dar um

encontrão.

— ALUNOS FORA DA CAMA! — berrou Peeves. — ALUNOS FORA DA CAMA NO CORREDOR

DOS ENCANTAMENTOS!

Passando por debaixo do Peeves, todos eles se lançaram numa corrida de vida ou de morte

até ao fim do corredor onde foram esbarrar com uma porta fechada.

— Pronto — rezingou o Ron, enquanto empurrava inutilmente a porta. — Estamos feitos.

Desta vez é que é o fim. Ouviram-se passos. Era o Filch que acorria a toda a velocidade aos

gritos de Peeves.

— Façam qualquer coisa — disse rispidamente Hermione que, agarrando na varinha de

Harry, bateu com ela na fechadura, murmurando — Alohomora!

A fechadura fez um clic e a porta abriu-se de par em par —entraram todos de roldão e

ficaram empilhados com os ouvidos encostados à porta.

— Para onde foram eles, Peeves? — perguntava o Filch. — Diz lá.

— Por favor também se usa.

— Não me chateies, Peeves. Para que lado foram?

— Não digo nada enquanto não me pedires por favor — disse o Peeves na sua voz irritante

e monocórdica.

— Está bem, está bem, por favor.

— NADA! Ah! Ah! Ah!. ..eu disse-te que não dizia nada enquanto não pedisses por favor!

E ficaram a ouvir a voz do Peeves a rir-se e a do Filch a praguejar, cheio de raiva. Ah! Ah!

Ah!

— Ele pensa que esta porta está fechada à chave — murmurou o Harry. — Julgo que

estamos a salvo — quieto, Neville! — (porque o Neville estava havia quase um minuto a puxar

insistentemente pela manga do roupão do Harry). — O que é?

Harry voltou-se — e viu claramente o que era. Por momentos pareceu-lhe que tinha

entrado num pesadelo. Era de mais para ele, depois de tudo aquilo por que já passara.

Não estavam numa sala como haviam imaginado e sim num corredor, O corredor proibido

do terceiro andar. E agora, sabiam qual o motivo porque era proibido.

Estavam a olhar directamente para os olhos de um cão monstruoso. Um cão que enchia o

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