Ordm; LIVRO - ENTRE A TERRA E O CÉU 7 страница

9.Prece e ação - Amaro pediu à segunda esposa que confiasse nele, mas Zulmira aludiu à imagem do menino Júlio, que não lhe saía da lem­brança. "Sinto que o remorso me persegue", disse-lhe a mulher. "Não fiz tudo o que eu devia para salvar o filhinho que me confiaste!..." Amaro rogou-lhe esquecesse o passado, asseverando que todos pertence­mos a Deus e que a Divina Vontade vive conosco, em toda parte. Era im­prescindível, pois, lutar, procurando a vitória. Odila inspirava o es­poso, que, envolvendo com carinho a enferma, prosseguiu: "Não olvides que pertencemos aos compromissos morais que assumimos... O carinho do meu caçula significava muitíssimo para o meu coração, contudo, não pode ser mais importante que o nosso amor!... Refaze-te! Vivamos nossa vida!... Temos Evelina e a nossa felicidade!..." Zulmira sentou-se, de olhos reanimados e diferentes. Odila, de fisionomia satisfeita, diri­giu-se então ao quarto da filha, onde, colocando a destra sobre a fronte da menina, que dormia, solicitou-lhe a presença. Findos alguns instantes, Evelina, em Espírito, apareceu e, vendo a mãezinha, correu a abraçá-la. A jovem estava radiante e maravilhada, e Odila pediu-lhe que ela ajudasse seu pai e sua madrasta, para salvar aquele lar. "Deus não nos reúne -- disse a genitora -- para a indiferença ou para o egoísmo e sim para o serviço salutar de uns pelos outros!..." Evelina disse que estava orando por todos, ao que sua mãe, incentivando-a à prece, declarou: "Não olvides a prece, querida, mas a súplica que não age pode ser uma flor sem perfume. Peçamos o socorro do Senhor, algo realizando para contribuir em seu apostolado divino... Comecemos por refundir a confiança em tua nova mãe. Faze-te melhor para ela... Pro­cura-a, desdobra-te no trabalho de preservação da tranqüilidade domés­tica, a fim de que Zulmira se veja segura de teu afeto e de teu enten­dimento filial..." E ajuntou: "Uma rosa sobre a mesa, uma vassoura di­ligente, uma peça de roupa cuidadosamente guardada, uma escova no lu­gar que lhe compete, são serviços de Jesus, no santuário da família, com os quais devemos valorizar o pensamento religioso... Não te dete­nhas tão somente nas boas intenções. Movimenta-te no trabalho encoraja­dor da harmonia. Sê o anjo do serviço em nossa casinha sin­gela! Zulmira necessita de uma irmã, de uma filha!... Aproveita a oportunidade e faze o melhor!..." (Cap. XXV, págs. 156 e 157)

10. Efeito da ação espiritual - Evelina, com indefinível contentamento a iluminar-lhe o rosto, enlaçou a mãezinha com extremada ternura e beijou-a, muitas vezes. Logo após, acordou deslumbrada. A jovem teve a impressão de estar descendo do céu, e a imagem da mãe, carinhosa e bela, ocupava-lhe toda a mente. Sob a inspiração de Odila, ela passou pela copa e chegou junto da madrasta, oferecendo-lhe pequena bandeja com a leve refeição da manhã. Amaro e Zulmira receberam-na, encanta­dos. "Meu Deus -- exclamou a doente, sorrindo --, tenho a impressão de que um anjo penetrou nossa casa. Tudo hoje amanheceu contentamento e bom ânimo!..." Evelina reuniu os dois cônjuges num só abraço e contou: "Sonhei com Mãezinha! Via-a tão nítida, como se ainda estivesse co­nosco. Afirmou que necessitamos de amor e recomendou seja eu para Zulmira a filha que ela não tem!... Ah! que felicidade!... Mamãe ouviu minhas preces!" Amaro ouviu, feliz, a informação, guardando consigo, contudo, as recordações da noite, e Zulmira abafou as próprias remi­niscências, para aderir com toda a alma ao otimismo daquele abençoado momento de paz e renovação: "Sem dúvida alguma, Odila deve ser o nosso gênio protetor... E' muita alegria nesta manhã para que a nossa ven­tura seja simples sonho ou mera coincidência!" Ao ouvir tal teste­munho, tocada em suas fibras mais recônditas, Odila começou a chorar entre o reconhecimento e o re­gozijo. Clara abraçou-a e disse-lhe, hu­milde: "Chora, minha filha! Chora de júbilo! Em verdade, quando o amor sublime penetra em nosso coração, a luz do Senhor passa a reger os passos de nossa vida". (Cap. XXV, págs. 158 e 159)

11. No Lar da Bênção - Com a alegria no lar de Amaro, Odila estava evidentemente feliz. Perguntando a Clara se havia agido corretamente, a instrutora conchegou-a de encontro ao coração e disse, terna: "Venceste, valorosa; compreendeste o santo dever do amor. Abençoarás para sempre este maravilhoso dia de renúncia e doação de ti mesma". Odila, que chorava copiosamente, informou que seu pranto não era de sofrimento: "Sinto-me agora leve e feliz... como não compreendia eu assim, antes?!..." Clara elucidou então: "Sim, perdeste peso espiri­tual, habilitando-te à elevação de nível. Nossas paixões inferiores imantam-nos à Terra, como o visco prende o pássaro a distância das al­turas..." Em seguida, afagando-a, acentuou: "Vamos! Deste agora o amor puro e, por isso, o amor puro não te faltará. De ora em diante, o teu coração permanecerá em serviço dos anjos guardiães de nossos destinos, que velam por nós abnegadamente, esperando-nos na Vida Mais Alta. Ce­dendo o carinho de teu companheiro à outra mulher, de cuja colaboração necessita ele para redimir-se, conquistaste nele novo patrimônio de afetividade, e, aproximando a filhinha daquela a quem devemos querer como irmã, adquiriste o merecimento indispensável para recuperar o filhinho, cujo futuro poderás orientar... Hoje mesmo, estarás ao lado de teu Júlio..." Odila, transfigurada, estampou no semblante a luz da felicidade que lhe fluía do mundo interior. Seria a primeira vez, de­pois da morte física, que ela iria ao Lar da Bênção, onde estava seu filho Júlio. Na viagem, Odila se admirou com os surpreendentes jogos da luz e, ao chegar ao Lar, extasiou-se na contemplação das centenas de crianças que brincavam festivamente. (Cap. XXVI, págs. 160 e 161)

12. O encontro com Júlio - Acompanhando Clarêncio, o grupo atingiu a residência de Blandina, que os acolheu com a gentileza habitual. Atraída pelo grande berço, Odila precipitou-se sobre o menino enfermo, bradando, alarmada: "Meu filho! Júlio! Meu filho!..." A Sabedoria Uni­versal colocou, sem dúvida, imperscrutáveis segredos no carinho ma­terno. Existe algo de milagroso e divino nos laços que unem mães e filhos que, por enquanto, não podemos apreender. Júlio, ao ver a mãe, transformou-se, de súbito. Indefinível expressão de felicidade cobriu-lhe o semblante: "Mãe! Mãe!...", gritou, respondendo. Os dois se abra­çaram e Odila retirou-o do leito, beijando-o enternecida. Depois, quando a emotividade asserenou, ela sentou-se ao lado dos benfeitores espirituais, com o filho ao colo, que lhe contou como doía a garganta, mostrando-lhe a glote extensamente ferida. Odila, sem compreender bem a posição orgânica do filho, nada falou; contudo, Clara considerou: "Esperamos localizar nossa amiga no Parque, por algum tempo, e, certo, sentirá prazer em encarregar-se do pequenino". Blandina apoiou a idéia e disse que a Escola das Mães apresentava vastas disponibilidades; não lhe faltariam os recursos... Odila disse não compreender aquela úlcera tão grande em Júlio, sem o corpo de carne... Clara pediu a Clarêncio que elucidasse o caso, e o Ministro ponderou, cauteloso: "Sim, nossa irmã, como é natural, encontrará pela frente variados problemas liga­dos ao caminho de elevação que lhe é próprio. Achamo-nos todos infini­tamente longe do Céu que fantasiávamos na Terra e cada qual de nós de­tém consigo deficiências que será preciso superar. O passado reflete-se no presente". E, sorrindo, acrescentou: "Nosso destino é assim como o rio. Por mais diferenciado se encontre, à distância da nascente que lhe dá origem, está sempre ligado a ela pela corrente em ação contí­nua..." Em resposta a Clarêncio, Odila disse que procuraria compreen­der, para poder amparar o filho com todos os cuidados indispensáveis ao seu bem-estar. "Sinto que a felicidade -- acrescentou ela -- pode ser conquistada no mundo a que fomos trazidos pela renovação... Tra­balharei quanto estiver ao meu alcance para ver Júlio integralmente refeito". (Cap. XXVI, págs. 162 a 164)

13. A vida é uma escola - Odila estava realmente transfor­mada, e seu sonho era esforçar-se para poder receber, em boas con­dições, os entes queridos que reencontraria, um dia, na vida espiri­tual. Blandina e Ma­riana pediram-lhe que ficasse junto delas, até si­tuar-se, em defini­tivo, no educandário a que se destinava, e Odila aceitou, reconhecida. O grupo de Clarêncio despediu-se e retornou ao seu do­micílio espiri­tual. André estava, porém, intrigado. Por que o Ministro não esclare­ceu Odila acerca do passado de Júlio? Seria aconselhável deixá-la en­tregue a informações deficientes? Clarêncio, após ouvir as ponderações de An­dré, explicou: "Ò primeira vista, seria efetivamente esse o ca­minho a seguir, entretanto as recordações do pretérito não devem ser total­mente despertadas, para que ansiedades inúteis não nos dilacerem o presente. A verdade para a alma é como o pão para o corpo que não pode exorbitar da quota necessária a cada dia. Toda precipita­ção gera de­sastres". O Ministro esclareceu que a própria Odila, sen­tindo-se ple­namente integrada no carinho materno, assumiria a res­ponsabilidade do trabalho alusivo à reencarnação do menino, encon­trando aí abençoado serviço de fraternidade, ao mesmo tempo que se re­conheceria mais res­ponsável. "Se movêssemos as decisões -- acentuou Clarêncio --, Odila observar-se-ia anulada em sua capacidade de agir, ao passo que, con­fiando a ela as deliberações que o caso reclama, ad­quirirá novo inte­resse para auxiliar Zulmira, de vez que a segunda es­posa de Amaro substituí-la-á na condição de mãe, oferecendo novo corpo ao fi­lhinho..." E aduziu: "A vida é uma escola e cada criatura, den­tro dela, deve dar a própria lição. Esperemos agora alguns dias. Inte­ressada em socorrer o filhinho doente, a própria Odila virá até nós, lembrando para ele a felicidade da volta à Terra". (Cap. XXVI, págs. 164 e 165)

14.Odila busca auxílio para Júlio - Quatro semanas se passaram e, como Clarêncio previu, Odila foi procurá-lo no Templo do Socorro. Ela vinha triste e preocupada. Júlio prosseguia apresentando na fenda gló­tica a mesma ferida. Seus cuidados, os recursos medicamentosos e os passes magnéticos não surtiam qualquer efeito. Visitando com Blandina inúmeras crianças infelizes, portadoras de problemas talvez mais dolo­rosos, não supunha a existência de tantas enfermidades depois da morte. Tentando obter a ajuda de amigos, para esclarecer-se convenien­temente, todos lhe repetiam que os compromissos morais adquiridos conscientemente na carne somente na carne deveriam ser resolvidos, e que, por isso mesmo, a reencarnação para Júlio era o único caminho. O corpo físico funcionaria como abafador da moléstia da alma, sanando-a, pouco a pouco... Odila estava amargurada. Que fizera o menino no pre­térito para receber semelhante punição? Clarêncio, profundo conhecedor do sofrimento humano, falou-lhe como sacerdote: "Odila, o passado agora não é o remédio próprio. Atendamos à hora que passa. Temos Júlio extremamente necessitado à nossa frente e o alívio dele é o nosso ob­jetivo mais imediato". A mãezinha resignada concordou num gesto silen­cioso. "Também creio -- prosseguiu o Ministro -- que a reencarnação do pequeno é urgente medida se desejamos observá-lo no caminho da própria recuperação." Odila pediu-lhe então sua ajuda, e Clarêncio informou-lhe que Júlio não era uma criatura comum, não sendo justo, por isso, renascer no mundo a esmo, como planta inculta germinando à toa. Pro­pôs-lhe, assim, analisar o quadro de suas relações afetivas, dizendo: "Tens grande plantio de amizades puras na Terra? Em questões de auxí­lio, não podemos perder os nossos sentimentos de vista. Tanto para en­trar no reino do espírito, como para entrar no reino da carne, em me­lhores condições, não podemos prescindir da cooperação de amigos sin­ceros que nos conheçam e nos amem". A mulher entendeu a observação do Ministro e revelou que, sempre ocupada com a casa e a família, nunca pôde efetivamente cultivar tantas afeições, como seria de desejar. Quem sabe o Amaro as teria? (Cap. XXVII, págs. 166 a 168)

15.Processo reencarnatório - Clarêncio aproveitou a citação do nome de Amaro e assentiu, prontamente. Amaro seria para o menino um admirá­vel companheiro, entretanto não poderiam dispensar no cometimento o concurso de Zulmira, no trabalho maternal. Para isso, era imprescindí­vel Odila fazer-se mais devotada, mais amiga... "Um esforço pede ou­tro. Sem o lubrificante da cooperação, a máquina da vida não fun­ciona", aditou Clarêncio. Os olhos de Odila faiscaram de esperança, e ela pro­meteu ajudar: "A princípio lutei contra Zulmira, desejando ser amada de meu esposo, agora devo lutar em favor de nossa irmã por amar o meu filho. Muito erramos, disputando o amor dos outros, entretanto, corri­gimo-nos e acertamos o passo, quando procuramos amar..." Na se­qüência, Clarêncio sugeriu-lhe mantivesse visitas afetuosas ao antigo lar, consolidando-lhe a harmonia, para que Júlio ali encon­trasse um clima de confiança. Quando Odila se despediu, André formulou para o Ministro diversas perguntas que lhe fustigavam a ca­beça. A re­encarnação como lei exigia o concurso da amizade? Os desafe­tos da vida influem em nosso futuro? O trabalho reencarnatório não se­ria uma impo­sição natural? Clarêncio respondeu, satisfeito: "A lei é sempre a lei. Cabe-nos tão somente respeitá-la e cumpri-la. Nossa ati­tude, porém, pode favorecer-lhe ou contrariar-lhe o curso, em favor ou em prejuízo de nós mesmos. O renascimento na carne funciona em con­dições idênticas para todos, contudo, à medida que se nos desenvolvem o conhecimento e o amor, conseguimos colaborar em todos os serviços do aperfeiçoamento moral em nossas recapitulações. A alma, como a planta, pode ressurgir em qualquer trato de solo, mas não seria justo relegar sementes sele­cionadas a terrenos incultos. A reencarnação, por si, tanto quanto ocorre nos reinos inferiores à evolução humana, obedece a princípios embriogênicos automáticos, com bases na sintonia magnética; contudo, em se tratando de criaturas com alguns passos à frente da multidão co­mum, é possível ajustar providências que favoreçam a execu­ção da ta­refa a cumprir". E ajuntou: "Nesses casos, a plantação de simpatia é fator decisivo na obtenção dos recursos de que necessita­mos... Quem cultiva a amizade somente na família consangüínea, difi­cilmente encon­tra meios para desempenhar certas missões fora dela. Quanto mais ex­tenso o nosso raio de trabalho e de amor, mais ampla se faz a colabo­ração alheia em nosso benefício". (Cap. XXVII, pp. 168 e 169)

16.Zulmira aceita ser mãe - Hilário aludiu então à questão da antipa­tia. Seria esta prejudicial nos processos reencarnatórios? Clarêncio elucidou: "Toda antipatia conservada é perda de tempo, em muitas oca­siões acrescida de lamentáveis compromissos. O espinheiro da aversão exige longos trabalhos de reajuste. Em várias circunstâncias, para cu­rar as chagas de um desafeto, gastamos muitos anos, perdendo o con­tacto com admiráveis companheiros de nossa jornada espiritual para a Grande Luz". Os dias transcorreram e soube-se, então, que Odila passou a dispensar envolvente carinho a Amaro e sua esposa doente, que, à custa de muito esforço dela, restabeleceu afinal a saúde orgânica. Preparando o retorno do filho amado, Odila associou-se, de coração, à tarefa de restaurar a harmonia conjugal e o contentamento de viver. Foi assim que, passadas algumas semanas, o grupo recebeu de irmã Clara um convite para uma visita ao Lar da Bênção. No dia aprazado, estavam ali, a postos, Blandina, Mariana, Clarêncio, Hilário e André, pales­trando animadamente em aposentos reservados na Escola das Mães, em torno do berço de Júlio. Decorrido algum tempo, Clara, Odila e Zulmira chegaram, envolvidas em luminosa onda de paz. Enlaçada pelos braços das duas entidades, a ex-obsidiada parecia feliz, apesar da impressão de medo e insegurança que lhe transparecia do olhar. Ao ver o menino, indagou: "Será Júlio, meu Deus?" -- "E' verdadeiramente Júlio! -- con­firmou Odila -- para ele te rogamos socorro! nosso pequeno precisa re­nascer, Zulmira! poderás auxiliá-lo, oferecendo-lhe o regaço de mãe?" Tomada por lágrimas de alegria, Zulmira inclinou-se sobre o menino e, afagando-o com intraduzível ternura, falou em voz quase sufocada pela emoção: "Estou pronta! Devo a Júlio cuidados que lhe neguei... Louvo reconhecidamente a Deus por esta graça! Sinto que assim nunca mais se­rei assaltada pelo remorso de não haver feito por ele quanto me compe­tia!... Será meu filho, sim!... Conchegá-lo-ei de encontro ao peito! O' Senhor, ampara-me!..." Zulmira, abraçada ao menino, pareceu, desde então, incapaz de qualquer sintonia com os demais Espíritos que ali se encontravam. Clarêncio sugeriu então que ela fosse restituída ao lar terrestre, para evitar maiores emoções, ficando marcada para o dia se­guinte a reencarnação daquele que, no passado, fora amante de Lina Flores e por ela se suicidara! (Cap. XXVII, págs. 169 a 171)

6a R E U N I Ã O

(Fonte: Capítulos XXVIII a XXXII.)

1.Júlio volta ao lar terreno - No dia seguinte, Clarêncio informou, de forma concisa, como seria o processo reencarnatório de Júlio. O ex-suicida sofreria o aflitivo desejo de permanecer na Terra; no entanto, suicida que foi, com duas tentativas de auto-aniquila­mento, por duas vezes deveria experimentar a frustração para valorizar com mais segu­rança a bênção da vida terrestre. "Depois de estagiar por muitos anos nas regiões inferiores de nosso plano, confiando-se inu­tilmente à re­volta e à inércia -- elucidou o Ministro --, já passou pelo afogamento e agora enfrentará a intoxicação. Tudo isso é lastimá­vel, no en­tanto... quem aprenderá sem a cooperação do sofrimento?" Hi­lário alu­diu ao martírio dos pais, e Clarêncio esclareceu: "Meus ami­gos, a jus­tiça é inalienável. Não podemos iludi-la. Com o desequilí­brio emocio­nal de Amaro e Zulmira, no pretérito, Júlio arrojou-se a escuro des­penhadeiro de compromissos morais e, na atualidade, reabili­tar-se-á com a cooperação deles. Ontem, o casal, por esquecê-lo, in­clinou-o à queda, hoje, por amá-lo, garantir-lhe-á o soerguimento". Quando se avizinhava a madrugada, o grupo socorrista voltou à casa de Amaro. Odila trazia nos braços o filho irrequieto e gemente, enquanto Clarên­cio, Clara, Blandina, Mariana, Hilário e André rodeavam a ambos, em silêncio. Ao penetrar a sala humilde, Júlio emudeceu. O Ministro ex­plicou: "O doentinho encontra grande alívio em contacto com os flui­dos domésticos. O reequilíbrio da alma no ambiente que lhe é familiar no mundo constitui base firme para o êxito da reencarnação". Em se­guida, ele penetrou, sozinho, a câmara conjugal, para certificar-se quanto à conveniência de se confiar o pequenino à sua futura mãe. Pas­sados al­guns minutos, Clarêncio voltou à sala e convidou os demais para en­trar. Enternecedor espetáculo desdobrou-se à vista de todos. Zulmira, em Espírito, estendeu-lhes braços fraternos. Estava bela, ra­diante de alegria... E, quando recebeu Júlio, conchegando-o ao peito, pareceu-lhes sublimada Madona, aureolada por maternidade vitoriosa. Odila cho­rava. O Ministro ergueu, então, os olhos para o Alto e orou, em voz comovedora. (Cap. XXVIII, págs. 172 e 173)

2.A reencarnação de Júlio - "Senhor, abençoa-nos!... De almas entre­laçadas na esperança em teu infinito amor e no júbilo que nasce da obediência aos teus desígnios, aqui nos achamos, acompanhando um amigo que volta à recapitulação!", disse Clarêncio em sua prece, pedindo forças para o amigo submeter-se resignado à cruz que lhe seria a sal­vação. "O' Pai, sustenta-nos -- prosseguiu o Ministro -- na grande es­trada redentora em que o obstáculo e a dor devem ser nossos guias, fortalece-nos o bom ânimo e a serenidade e modela-nos o coração para que saibamos servir-te em qualquer circunstância!... Sobretudo, Se­nhor, rogamos-te auxilies a nossa irmã que investe sagradas aspirações femininas no apostolado maternal! Santifica-lhe os anseios, multi­plica-lhe as energias para que ela se honre contigo na divina tarefa de criar!..." A palavra de Clarêncio, saturada de paternal amor, le­vara a todos à comoção, especialmente Zulmira, que, atraída pelo poder magnético da oração, avançou com o menino colado ao regaço até junto do Ministro, e ajoelhou-se. André lembrou-se da passagem evangélica da viúva de Naim com o filho morto aos pés do Cristo, e chorou. Tocado por aquele gesto espontâneo de confiança e fé, Clarêncio transfigurou-se. Jorro estelar descia da Altura, inflamando-lhe a fronte, e da des­tra que acariciava a irmã genuflexa projetavam-se raios de safirina luz... Em seguida, sustentando-a nos braços, ele a reergueu, condu­zindo-a ao leito com a criança. Júlio dormia placidamente e, abraçado ao colo materno, parecia fundir-se nele. O fenômeno reencarnatório ali era demasiado simples. O corpo sutil do menino como que se justapunha aos delicados tecidos do perispírito maternal, adelgaçando-se gradati­vamente. Clara e as demais companheiras oscularam a futura mãe, que tentava recuperar o corpo denso, conduzindo consigo o pequeno confor­tado e desfalecente. Odila encarregou-se da assistência a Zulmira e Clarêncio prometeu seguir, de perto, os serviços naturais daquela gra­videz incipiente. Ao sair, Clarêncio esclareceu que a reencarnação de Júlio fora simples, porque se tratava de uma encarnação com interesse tão somente para ele mesmo e para os familiares que o cercavam. Toda­via, se a existência do filho de Amaro estivesse destinada a influen­ciar a comunidade, se ele fosse detentor de méritos indiscutíveis, com responsabilidades justas nos caminhos alheios, o problema seria dife­rente. "Forças de ordem superior seriam fatalmente mobilizadas para a interferência nos cromossomos, garantindo-se o embrião do veículo fí­sico de maneira adequada à missão que lhe coubesse", ajuntou o Minis­tro. (Cap. XXVIII, págs. 174 a 176)

3.A questão da maternidade - Hilário perguntou ao Ministro o que ocor­reria se o reencarnante fosse um homem de larga intelectualidade. "Merecer-nos-ia cautelosa atenção na estrutura cerebral, para que lhe não faltasse um instrumento à altura de seus deveres na materialização do pensamento", respondeu Clarêncio. Se fosse um médico, um grande ci­rurgião, por exemplo, receberia "assistência aprimorada na formação do sistema nervoso, assegurando-se-lhe pleno domínio das emoções". Em milhares de renascimentos, na Terra, o Instrutor informou que os prin­cípios embriogênicos funcionam automaticamente, cada dia. "A lei de causa e efeito executa-se sem necessidade de fiscalização de nossa parte", elucidou Clarêncio, aditando: "Na reencarnação, basta o magne­tismo dos pais, aliado ao forte desejo daquele que regressa ao campo das formas físicas. De retorno ao corpo físico, estamos invariavel­mente animados de um propósito firme... seja o anseio de alijar a dor que nos atormenta, a aspiração de conquistas espirituais que nos faci­litem o acesso à Vida Superior, o voto de recapitular serviços mal feitos ou o ideal de realizar grandes tarefas de amor entre aqueles a quem nos afeiçoamos no mundo". De modo geral, explicou o Ministro, a maioria das almas que reencarnam satisfazem à fome de recomeço. Quem não atendeu com exatidão ao trabalho que a vida lhe delegou, depressa se rende ao impositivo de repetição da experiência, e o ressurgimento na luta física aparece por bênção salvadora. Milhões de destinos se reestruturam dessa forma, qual se refaz uma grande floresta. A semen­teira cresce, estimulada pelo magnetismo do solo; a existência corpó­rea germina de novo, incentivada pelo magnetismo da carne... O seio maternal é, desse modo, "um vaso anímico de elevado poder magnético ou um molde vivo destinado à fundição e refundição das formas, ao sopro criador da Bondade Divina, que, em toda a parte, nos oferece recursos ao desenvolvimento para a Sabedoria e para o Amor. "Esse vaso -- disse Clarêncio -- atrai a alma sequiosa de renascimento e que lhe é afim, reproduzindo-lhe o corpo denso, no tempo e no espaço, como a terra en­gole a semente para doar-lhe nova germinação, consoante os princípios que encerra". "Maternidade é sagrado serviço espiritual em que a alma se demora séculos, na maioria das vezes aperfeiçoando qualidades do sentimento." (Cap. XXVIII, págs. 176 e 177)

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